À deriva. Diz-se das naus errantes, que vagam, sem destino, em alto mar. Mas é assim mesmo que Hamilton se sentia. Mais um pé na bunda: resultado da recente entrevista de emprego. Banho tomado, cabelo cortado e penteado para o lado. Vestido naquele terno em corte démodé. Um tanto acima do peso. Dicionário (?!?!) debaixo do braço para o suposto apelo intelectual. Toda trajetória de sua vida parecia culminar naquele exato momento. Síntese da obra: Hamilton de pé, à esquina da praça de uma pequena cidade do interior. Ouve o grito gutural. Abre de espanto o livro, submisso a mais pura ordem alfabética, busca pela palavra. S. f. 1. Ato de fechar; cerramento, fechamento. 2. Estado daquilo que se acha fechado. 3. Obliteração; apagamento, fechamento. 4. Astr. Desaparecimento momentâneo de um astro. Apenas mais uma peça inconsistente para o quebra-cabeça de seus miolos. Até que Hamilton ouve novamente o grito – Ô cuzão!
1 Comentário
Jorge, amigo
O coração náufrago de Hamilton debatendo-se nos oceanos espumantes de insenbilidades humanas, quem sabe não passou a perceber, a partir do final do teu belo texto, que a maior distância é aquela entre a mente e o coração?
Grande, Jorge
abraços
Noélio A. de Mello
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