XI – CAMA DE PREG0S
A tristeza alheia é uma coisa que não suportamos. Basta apenas que
uma pessoa nos apresente o mais leve indício de que está triste para que
nos mobilizemos. Explico: vovó, papai, enfim, cada um de nós inventa uma
história pessoal – carregando nas tintas do sofrimento, é claro. As histórias
em geral são tão fortes e pungentes que aquele que está triste é forçado a
sentir vergonha dos seus problemas, tão insignificantes se comparados aos
nossos. Por conta disso o sujeito se sacode. Com o astral lá em cima e todo
contente, o tristonho recuperado abandona a cama de pregos da sua
infelicidade e mete a cara na vida. Vai para a rua sorridente, uma canção
florida pendurada nos lábios. Acontece, porém (e sempre há um porém),
que a força de nossas histórias é tão avassaladora que o tiro sai pela
culatra. Cada um de nós absorve a história inventada como se ela fosse
real, e aí não tem mais jeito: vítimas do próprio remédio, disputamos a
tapa a cama deixada pelo outro, transbordantes de tristeza, chorosos,
infinitamente inconsoláveis.
(na próxima semana, o capítulo final de EM FAMÍLIA e a continuação de FILOBÔNIO FILÓ. aguardem!)
domingo, 13 de junho de 2010
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EM FAMÍLIA - Capítulo 11
autor(a): Parreira
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