- pralém do horizonte
Pra Filó disseram um dia que a felicidade mora no fim do arcoíris.
Desde então, mesmo parado, Filó caminha em direção ao fim
do arco-íris, que é onde disseram que mora a felicidade.
Quando ele já está bem perto, sentindo já o gosto e o cheiro
da felicidade, o arco-íris se manda com mala e tudo pralém do
horizonte.
Filó, ao invés de dizer
- Que pena...
sorri e balança a cabeça e diz apenas
- Graças a Deus!!!
- vida zap!
O controle remoto é a maior invenção da humanidade – assim
pensa Filobônio, tranquilão, diante da TV. E não é pra menos: com
o minúsculo aparelho tem acesso ao mundo todo, em segundos: um
ZAP! e já está no Xingu; ZAP!, ZAP!, agora em Xangai. ZAP! lá,
ZAP! cá. Vida melhor? Não há.
Com a modernosa engenhoca na mão, Filó vai longe, viaja: por
que não um controle remoto para o fogão, para as panelas sobre o
fogão? O objetivo desses bichos eletrônicos não é facilitar a vida,
torná-la mais prática? Pois então! Controles, controles, um mundo
inteiro de controles, por que não?
Entre um ZAP! e outro, cheio de alegria e preguiça, Filó,
diante da TV, inventa uma vida inteiramente nova, uma vida ZAP!,
remotamente controlada por qualquer outra lei que não a do
mínimo esforço.
- estrelas
Às vezes a TV pifa. A Filó restam então o frescor do quintal e a
companhia das estrelas.
E quando a noite está limpa (coisa rara mas que vez ou outra
acontece), ele pesca estrelas com o dedo fino e comprido.
Enche de estrelas a casa, o quarto e a cama – e aí dorme todo
estrelado.
- filosóficas IV
- viver é aquilo que a gente faz entre os inTerValos
- duplo triplo et cetera
- Seu Filó, vi o senhor na televisão hoje. Parabéns! – diz um
vizinho.
- Minha irmã – diz outro -, telefonou e disse que viu o senhor
lá na Curva do Brejo hoje cedo, e o senhor tá aqui de novo? É uma
viagem e tanto!
Sem entender absolutamente nada, Filó se despede dos
vizinhos e se põe a caminhar pela cidade, pensativo. Como poderia
ter estado num lugar que nem conhece? E na TV!, como é possível?
Pensando, Filó sobe uma ladeira. E descendo a mesma ladeira
vem outro Filó. Idêntico, igualzinho. Num determinado ponto os
dois se cruzam, e o que desce cumprimenta o que sobe:
- Bom-dia, Filó!
Filó, ocupado com seus pensamentos, responde sem muita
vontade – e pára, pasmo: está diante de si mesmo! Um sonho, um
espelho, que diabo!
- Ei! – grita o primeiro, o original Filó.
O outro, o duplo, já desaparece ao pé da ladeira. Filó então, o
primeiro, volta a caminhar, mais intrigado ainda. E, na rua mais
movimentada do bairro, o susto definitivo: Filó avista outro Filó, e
outro, outros mais, dezenas de Filós conversando, entrando e
saindo dos bancos, dos bares. Sem outra alternativa, Filó – o
original – faz o que lhe parece mais sensato para o momento:
desmaia.
Algum tempo mais tarde, já em casa e na própria cama, ele
desperta como que de um pesadelo. Filós, ah, essa é boa! Como se
já não bastasse um só...
Enquanto isso, num jornal esquecido sobre a mesa, um
cientista inglês explica ao mundo que a Clonagem, sistema de
duplicação dos seres a partir do DNA, já é uma realidade tão
concreta quanto a Xerox.
domingo, 27 de junho de 2010
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FILOBÔNIO FILÓ - parte 05
autor(a): Parreira
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1 Comentário
Li até aqui. Rindo sempre e aguardo o restante. Abraços.
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