Nem sempre se vê mágica no absurdo
- Por Robertson Rébula -
Um agradável conto de perversão familiar. Fez-me lembrar do boato que se contava tempos atrás, sobre uma extravagância relacional entre o cantor Lobão e sua mãe. Desmentido pelo próprio, mas que incensou uma publicidade interessante sobre sua personalidade pouco convencional. Diria o mesmo sobre a vida do pai de Lili. Um homem maduro um tanto transgressivo, revê sua decisão de não mais fumar e amar.
O espírito dos principais personagens evoca, através da experiência viciante do cigarro, um cortinado, que esconde rebeldia e transgressão, mas, sobretudo, relata uma relação forte de amor, de compartilhamento de vida e de apoio mútuo.
O Último Trago poderia ser intitulado como o Primeiro Trago, porque é uma narrativa que tangencia as iniciações juvenis ou os profanos ritos de passagem, como fumar o primeiro cigarro e ter a primeira experiência sexual. A estória de cumplicidade entre uma mãe solitária e um filho alimentado à nicotina, cujas consequências são previsíveis, quando falta o elemento de interdição.
É o primeiro conto que li de Borboleta e gostei. Percebe-se esmero nas construções frasais, no tratamento de cores e odores, nos vermelhos e cheiro de chocolate que exalam dos cabelos de Lili.
O final dissipa a fumaça e esclarece a complicação, embora não surpreenda, porém evoca uma decisão, após a constatação daqueles avolumados seios, pude ver a poeira do tempo depositada sobre a minha pele, no qual nosso narrador revê a possibilidade de renovação de seu obcecado desejo incestuoso.
A literatura permite tratar temas delicados como o incesto com leveza, como Borboleta nos apresenta neste conto e essa é a grande aventura do ser humano em poder viver todos os mundos possíveis. Retomando Lobão: nem sempre se vê / mágica no absurdo.
Imagem: SmokeWorks #41, de Mehmet Ozgur
- Por Robertson Rébula -
Um agradável conto de perversão familiar. Fez-me lembrar do boato que se contava tempos atrás, sobre uma extravagância relacional entre o cantor Lobão e sua mãe. Desmentido pelo próprio, mas que incensou uma publicidade interessante sobre sua personalidade pouco convencional. Diria o mesmo sobre a vida do pai de Lili. Um homem maduro um tanto transgressivo, revê sua decisão de não mais fumar e amar.
O espírito dos principais personagens evoca, através da experiência viciante do cigarro, um cortinado, que esconde rebeldia e transgressão, mas, sobretudo, relata uma relação forte de amor, de compartilhamento de vida e de apoio mútuo.
O Último Trago poderia ser intitulado como o Primeiro Trago, porque é uma narrativa que tangencia as iniciações juvenis ou os profanos ritos de passagem, como fumar o primeiro cigarro e ter a primeira experiência sexual. A estória de cumplicidade entre uma mãe solitária e um filho alimentado à nicotina, cujas consequências são previsíveis, quando falta o elemento de interdição.
É o primeiro conto que li de Borboleta e gostei. Percebe-se esmero nas construções frasais, no tratamento de cores e odores, nos vermelhos e cheiro de chocolate que exalam dos cabelos de Lili.
O final dissipa a fumaça e esclarece a complicação, embora não surpreenda, porém evoca uma decisão, após a constatação daqueles avolumados seios, pude ver a poeira do tempo depositada sobre a minha pele, no qual nosso narrador revê a possibilidade de renovação de seu obcecado desejo incestuoso.
A literatura permite tratar temas delicados como o incesto com leveza, como Borboleta nos apresenta neste conto e essa é a grande aventura do ser humano em poder viver todos os mundos possíveis. Retomando Lobão: nem sempre se vê / mágica no absurdo.
Imagem: SmokeWorks #41, de Mehmet Ozgur
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