Três revelações na primeira quarta-feira de dezembro
Parte III: as companhias de Deus
(diga-me com quem tu andas que te direi quem és)
A notícia mais reveladora do dia, porém, ficou a cargo do cardeal mexicano Javier Barragán, ao declarar que – segundo São Paulo – está terminantemente proibida a entrada e permanência de gays no céu. Apontamento interessante para um religioso, tanto mais se considerarmos que tal assertiva implica que, também, não encontraremos nenhum padre por lá.
Ao menos foi o que pude captar do discurso de Barragán, segundo o qual, a exclusão da facção gay – dos domínios da morada celeste – deve-se ao uso indevido que a mesma preconiza do corpo; nas palavras do velho sacerdote: “Tudo que vai contra a natureza e a dignidade do corpo ofende a Deus”. Por isso minha suspeita de que o veto possa ser estendido, igualmente, à classe sacerdotal. Afinal, quem nos garante que a castidade também não se configura como uma prática antinatural e contrária aos desígnios do Senhor? Ora, fôssemos todos castos e a perpetuação da parte mais perfeita de sua obra – cujos traços de imagem e semelhança guardam a alcunha de sua assinatura – encontrar-se-ia em grave perigo. Assim, a não ser que Deus cultive o sanguinolento projeto de exterminar-nos em médio prazo, acredito que o não uso do corpo constitua ofensa tão ou mais grave do que seu “uso indevido”.
Agora, para mim, o mais estranho nessa história toda está na mudança de humor operada no caráter de Deus. Desde o antigo testamento não se lhe via assim, tão pouco acolhedor com os marginalizados, tão vingativo em seus julgamentos, tão genofóbico. Por isso minha descrença frente a todo esse episódio; sinceramente, acho que há mais veados nesse mato. Quem sabe, por trás da censura aos gays, lésbicas e transexuais, não se esconda alguma medida preventiva contra o desregrado crescimento populacional na zona celeste? Estratégia que, caso venha a ser fato, pode até funcionar; afinal, com exceção dos mulçumanos, não conheço nenhum outro grupo que cresça em medida tão acelerada.
Quanto à classe sacerdotal – cujo contingente diminui a cada dia –, creio ser outra a explicação para a interdição de suas batinas no setor celeste. Neste caso, suspeito se tratar de alguma medida econômica; algo como um ajuste do aparelho administrativo. Afinal, é natural que, no céu, a presença de Deus, Jesus e Maria – sem falar na corte dos Anjos, Querubins e Santos – acabe por tornar desnecessária a manutenção de uma classe, já obsoleta, de padres, bispos, cardeais e papas.
De qualquer modo, desde que o veto não se aplique aos simpatizantes, a mim pouco importa que gays, lésbicas, transexuais e padres não possam subir aos céus. Eles que façam lá suas Paradas, que roguem ao Homem por seus direitos. Eu cá, graças a Deus, já estou com meu bilhete garantido; afinal, todo santo dia, faço a minha parte: trabalhando, rezando e trepando (somente com mulheres).
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