domingo, 11 de julho de 2010

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FILOBÔNIO FILÓ - parte 07

- nostalgia

Houve um tempo de espantos e surpresas.
Um tempo de pipocas.
Um tempo de faquires e mulheres barbadas.
De palhaços.
Um tempo de cobras e leões e macacos.
Houve um tempo de circo de lona de picadeiro.
Houve um tempo de infância.
Hoje Filó vive um tempo que não surpreende mais pela
fantasia.
Surpreende pela realidade.

- a longa volta

Numa barulhenta igreja evangélica Filó escuta do pastorexecutivo:
- Jesus está voltando! Aleluia!
As ovelhas executadas repetem com fervor:
- Jesus está voltando! Aleluia, aleluia!
Outra vez na rua, Filó, que uma espécie de... digamos, ovelha
desgarrada, pensa c’os seus botões:
- Bem longe essa viagem que Ele fez. Volta, volta, e não chega
nunca!

- inteligência artificial

Na revista de informática, Filó fica sabendo que, do outro lado
do mundo, um robô já é capaz de ler, pensar e falar corretamente.
- Isso é ridículo – diz ele.
Na revista de geografia, Robô fica sabendo que, do outro lado
do mundo, um homem ainda desconfia da inteligência artificial.
- Isso é ridículo – diz ele.

- filosóficas VI

- as frentes frias vêm sempre pelas costas

- o dia em que hong kong abalou o mundo

De repente, não mais que de repente, o chão sob os pés de
Filó começa a tremer. Tremem também na cozinha os copos e os
pratos, no banheiro treme a privada, na rua tremem as casas e os
edifícios, no mercado financeiro tremem as taxas de juros.
Filó, a boca espumando de espanto, liga imediatamente a TV.
Num tom solene e inexpressivo, o grisalho apresentador do Jornal
Informal comunica:
- Peido de um operador da bolsa de valores de Hong Kong
provoca violento abalo sísmico que atingiu 9 pontos na Escala
Richter. As repercussões do ocorrido foram verificadas nos 4 cantos
do mundo etc., et cetera.
Com as mãos espalmadas apoiadas na parede, Filó, que não é
bobo faz tempo, prepara o corpo e o bolso para novos tremores.
Porque o homem, afinal, pode ainda dar um espirro, ou um arroto,
quem sabe.

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