quarta-feira, 11 de agosto de 2010

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Clarissa - Décimo Capítulo

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Nove meses após a morte de Maurício alguém bateu em sua porta. Olhou pelo olho mágico. Eram dois homens bem vestidos. Quem seria? Abriu devagar arrumando um fino vestido sobre o corpo bem feito.

- Bom dia! – falou o mais idoso.

- Bom dia! – disse ela curiosa.

- Senhora Clarissa Machado?

- Sim!

- Sou o inspetor de polícia Reginaldo! Esse é meu assistente Fábio.

- Prazer! Em que posso ajudá-los?

- Viemos lhe fazer algumas perguntas. Pode ser?

- Claro! Fiquem à vontade. Entrem e sentem, por favor.

O corpo escultural de Clarissa, mal escondido no vestido quase transparente fez os dois homens olharem para o outro lado. Eles estavam a trabalho, não podiam deixar a beleza estonteante dela ofuscar suas mentes.

- Senhora! Conheceu Maurício Machado?

- Claro! Era meu marido até me abandonar.

- A senhora sabe onde ele se encontra agora?

O pensamento de Clarissa voltou para o alto mar, onde o corpo de Maurício descia devagar nas águas límpidas ao encontro dos tubarões.

- Não senhor! Tentei entrar em contato com a família para ver como ficava minha situação. Não sou nem casada nem descasada. Quero regularizar isso. Afinal posso querer casar novamente um dia, não é mesmo?

O auxiliar do inspetor pensou logo que seria uma boa idéia.

- Sei! Quando foi que a senhora o viu pela última vez?

Novamente o corpo de Maurício descendo nas águas límpidas.

- Na sexta feira dia onze de outubro passado, era noite quando ele disse que tinha outra mulher e que iria embora. Saiu e nunca mais o vi.

- A senhora sabe quem é essa mulher?

- Não! Infelizmente não sei. Mas encontrei no porta-luvas de meu carro um isqueiro.

E entrou no quarto para pegá-lo. Entregou ao policial.

- Não é nosso e de ninguém que eu conheça. Guardei-o porque achei que um dia me seria útil. Nunca foi. Talvez sirva para os senhores.

- A senhora é professora?

- Sim.

- Ainda leciona?

- Não senhor! No momento estou parada. Mas só por mais alguns dias, até meu coração assimilar o abandono e minhas economias durarem. Aí volto a trabalhar.

- Tem parentes senhora Clarissa?

- Sim! Muitos!

- Pode nos fornecer o endereço de algum deles?

- Claro! De todos se precisarem.

- Agradeceríamos.

Clarissa entrou para o quarto novamente e voltou com uma agenda onde havia muitos endereços. Entregou a agenda e esperou.

- Todos são parentes?

Ela riu lindamente e disse:

- Claro que não. Aí tem amigos, ex-alunos e parentes. Parentes do meu lado e do lado de meu ex-marido.

Os agentes anotaram o que acharam fosse necessário e devolveram a agenda.

- Senhora Clarissa! Agradecemos sua atenção e por enquanto é só. Tornaremos a entrar em contato.

- Posso lhes fazer uma pergunta?

- Quantas achar necessárias.

- Por que os senhores estão fazendo essa pesquisa?

- Não é pesquisa senhora. É uma investigação. Foi a mãe de seu marido que nos chamou. Ela está estranhando ele não entrar mais em contato por tantos meses. Então pediu uma investigação.

- Ah! Entendo! Se puder ajudar em algo mais estou à inteira disposição.

- Agradecemos. Até mais ver senhora.

- Até mais!

Quando os homens saíram, Clarissa viu todos os cinco corpos descerem pelas águas límpidas do alto mar. Só Maurício estaria ligado a ela. Para os demais, lhes dera nomes falsos, e os cafajestes, para não se incriminarem com as esposas e amigos de trabalho, sempre a deixavam no escuro e longe de olhos indiscretos. Seria uma incógnita para as famílias o seu desaparecimento.

Para essas pessoas ela não existia.

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