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Nove meses após a morte de Maurício alguém bateu em sua porta. Olhou pelo olho mágico. Eram dois homens bem vestidos. Quem seria? Abriu devagar arrumando um fino vestido sobre o corpo bem feito.
- Bom dia! – falou o mais idoso.
- Bom dia! – disse ela curiosa.
- Senhora Clarissa Machado?
- Sim!
- Sou o inspetor de polícia Reginaldo! Esse é meu assistente Fábio.
- Prazer! Em que posso ajudá-los?
- Viemos lhe fazer algumas perguntas. Pode ser?
- Claro! Fiquem à vontade. Entrem e sentem, por favor.
O corpo escultural de Clarissa, mal escondido no vestido quase transparente fez os dois homens olharem para o outro lado. Eles estavam a trabalho, não podiam deixar a beleza estonteante dela ofuscar suas mentes.
- Senhora! Conheceu Maurício Machado?
- Claro! Era meu marido até me abandonar.
- A senhora sabe onde ele se encontra agora?
O pensamento de Clarissa voltou para o alto mar, onde o corpo de Maurício descia devagar nas águas límpidas ao encontro dos tubarões.
- Não senhor! Tentei entrar em contato com a família para ver como ficava minha situação. Não sou nem casada nem descasada. Quero regularizar isso. Afinal posso querer casar novamente um dia, não é mesmo?
O auxiliar do inspetor pensou logo que seria uma boa idéia.
- Sei! Quando foi que a senhora o viu pela última vez?
Novamente o corpo de Maurício descendo nas águas límpidas.
- Na sexta feira dia onze de outubro passado, era noite quando ele disse que tinha outra mulher e que iria embora. Saiu e nunca mais o vi.
- A senhora sabe quem é essa mulher?
- Não! Infelizmente não sei. Mas encontrei no porta-luvas de meu carro um isqueiro.
E entrou no quarto para pegá-lo. Entregou ao policial.
- Não é nosso e de ninguém que eu conheça. Guardei-o porque achei que um dia me seria útil. Nunca foi. Talvez sirva para os senhores.
- A senhora é professora?
- Sim.
- Ainda leciona?
- Não senhor! No momento estou parada. Mas só por mais alguns dias, até meu coração assimilar o abandono e minhas economias durarem. Aí volto a trabalhar.
- Tem parentes senhora Clarissa?
- Sim! Muitos!
- Pode nos fornecer o endereço de algum deles?
- Claro! De todos se precisarem.
- Agradeceríamos.
Clarissa entrou para o quarto novamente e voltou com uma agenda onde havia muitos endereços. Entregou a agenda e esperou.
- Todos são parentes?
Ela riu lindamente e disse:
- Claro que não. Aí tem amigos, ex-alunos e parentes. Parentes do meu lado e do lado de meu ex-marido.
Os agentes anotaram o que acharam fosse necessário e devolveram a agenda.
- Senhora Clarissa! Agradecemos sua atenção e por enquanto é só. Tornaremos a entrar em contato.
- Posso lhes fazer uma pergunta?
- Quantas achar necessárias.
- Por que os senhores estão fazendo essa pesquisa?
- Não é pesquisa senhora. É uma investigação. Foi a mãe de seu marido que nos chamou. Ela está estranhando ele não entrar mais em contato por tantos meses. Então pediu uma investigação.
- Ah! Entendo! Se puder ajudar em algo mais estou à inteira disposição.
- Agradecemos. Até mais ver senhora.
- Até mais!
Quando os homens saíram, Clarissa viu todos os cinco corpos descerem pelas águas límpidas do alto mar. Só Maurício estaria ligado a ela. Para os demais, lhes dera nomes falsos, e os cafajestes, para não se incriminarem com as esposas e amigos de trabalho, sempre a deixavam no escuro e longe de olhos indiscretos. Seria uma incógnita para as famílias o seu desaparecimento.
Para essas pessoas ela não existia.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
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Clarissa - Décimo Capítulo
autor(a): Paola Rhoden
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