domingo, 22 de agosto de 2010

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A ESPERA - Osvaldo Pastorelli

Com gestos miúdos e contidos fechou as gavetas uma por uma. Jogou as chaves na bolsa de couro aberta em cima da mesa.
Quinze minutos faltavam ainda para cinco e meia. Mesmo assim resoluta se encaminhou para o elevador. Na recepção desejou um bom fim de semana à recepcionista.
Ao sair para a rua sentiu o impacto do vento cortando seu rosto moreno. Enfiou as mãos no grosso casaco como se tal gesto fosse protegê-la do frio. Época boa para caminhar costumava dizer.
Parou no pipoqueiro comprou seu saquinho habitual. No semáforo atravessou a rua. Um quarteirão depois, à esquerda, desceu o declive pela trilha que cortava o canteiro - onde a placa fincada bem no meio do verde dizia em letras quase apagadas: não pise na grama -, deixando a marca dos pés sobre os muitos pés de transeuntes apressados.
O ponto do ônibus como sempre era um imenso formigueiro. Parou afastada da massa aglomerada à beira da calçada e olhou o relógio. Dali a pouco o noivo viria apanhá-la.
Como sua vida podia ser de uma futilidade de nada lhe acontecer a não ser o corriqueiro foi o que perguntou a si mesma observando a afobação das pessoas em querer tomar a condução, via uma ânsia de se ter alguma coisa para se fazer, de se ter um compromisso que provavelmente, preencheria a vida de cada um.
Indignava-se com aquela afobação. Um empurra sem fim que só demonstrava ignorância bestial contra o semelhante. Todos de uma maneira ou de outra chagariam em casa, por que precisavam ir todos ao mesmo tempo?
Mudou o pé de apoio. Cruzou os braços. Do peito saiu um suspiro curto, cansado. Droga de vida! Por que ele demorava?
Nisso, sem saber, começou a sentir um pequeno formigamento do lado esquerdo ao mesmo tempo a temperatura do corpo subiu. Não agüentava o calor. Apesar do frio tirou o casaco. Pôs-se a andar de um lado para o outro na esperança de que a sensação esquisita desaparecesse.
Angustiada perdia o controle dos movimentos. Horrorizada suas mãos subiam e desciam acariciando seu corpo. Dos lábios saiam gemidos lascivos. Tinha noção do que se passava, não conseguia deter as mãos, nem a voz.
Nisso a senhora ao lado que a olhava de soslaio, se afastou quando resolveu tirar a blusa ficando de sutiã. Nessa altura todos olhavam para ela que se contorcia desesperada.
Fizeram um círculo a sua volta. Assobiavam e gritavam palavras obscenas. Um coro de vozes se sobrepôs num uníssono em ¨tira, tira, tira¨. Obedecendo, ficou só de calcinha. A senhora que havia se afastado gritou: ¨Chamem um guarda!¨ A cena parecia saído de um filme B.
O guarda nos seus noventa quilos apareceu empurrando e pedindo licença. Seus olhos se arregalaram ao ver ela se acariciando como se estivesse num palco fazendo strip-tease. Estava diante de uma situação inusitada. Estupefato não sabia o que fazer. Precisava agir. Deu dois passos à frente e esticou a mão. A ponta dos dedos tocou a pele morena quando se ouviu um buzinar insistente fazendo com que ela desse um pulo de susto.
O noivo a esperava com a porta do carro aberta.


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