Capítulo II
Que susto! Instintivamente pulei para o lado e quase disse um palavrão. Mas era apenas um dos funcionários que também trabalhava no mesmo andar que eu. Reconheci sua fisionomia, mas não atinei com seu nome.
- Homem! Que Susto! – falei quase gritando.
- Guria! Nem tanto! Só quis lhe dar bom dia!
- Ah! Bom dia! É melhor aproveitarmos que os carros pararam.
Seguimos contornando os veículos parados. Ao chegarmos do outro lado continuamos juntos, mas mudos. No elevador ele disse:
- Tem algo para fazer hoje à noite?
Fiquei surpresa com a pergunta. Não éramos muito chegados, e apesar de nos vermos muitas vezes durante o dia, raramente conversávamos.
- Nada importante. Comer um sanduíche, tomar um copo de leite, ver algum filme e dormir. Por que a pergunta?
- Recebi uma coleção de filmes históricos de minha irmã que mora no Rio de Janeiro, e gostaria de ter alguém como você, inteligente e pesquisadora, para assistir comigo.
Dei um sorriso, mas não respondi logo. As portas do elevador abriram-se e saímos para o corredor já movimentado embora fosse bem cedo ainda.
- Então? Que me diz? – tornou ele.
Parei de andar e fitei o colega de trabalho. O conhecia por vê-lo todo dia durante dois anos, mas nem sabia seu nome. Então fiz a pergunta que selou nossas vidas:
- Como é seu nome?
Ele começou a rir, a rir muito, e o riso foi contagiante porque também passei a rir com ele. E ficamos os dois ali rindo e nos olhando até alguém perguntar qual era a piada tão boa. Ele estendeu a mão e apresentou-se galhofando:
- João Maria. Mas o pessoal de meu setor me chama de Joanim. Nem sei por quê. Não me pergunte.
Tomei sua mão para o cumprimento e perguntei:
- Sabe meu nome?
- Claro. Faz já um bom tempo que tento lhe convidar para alguma coisa, como tomar um chá, comer uma torta, mas nunca me atrevi. Você nunca me deu chance.
Parados ali no corredor, um olhando para o outro como dois de paus, achei que precisávamos falar mais a vontade. Propus:
- Vamos almoçar juntos hoje, e aí veremos no que dá.
- Ok! Faremos isso sim! Saímos às doze horas então.
Ele rodopiou nos calcanhares, deu um adeusinho com a mão e entrou em sua sala.
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