XV
No dia seguinte Clarissa acordou tarde. Chegara de madrugada com os amigos. Divertiram-se muito! Nandinho revelou-se um perfeito cavalheiro e par delicioso para uma noitada alegre. Beberam uns drinks preparados por uma espanhola que era uma delícia. Não acostumada a bebidas de álcool Clarissa ficou alegre logo no primeiro. Tomou três deles! Deveria ter ficado muito estranha, nunca se vira bêbada. Nem Maurício bebia. Foi uma experiência singular. Beijou Nandinho na boca com uma paixão que só sentiu com o marido. Aliás, o marido fora o único que ela beijara com paixão. Todos os demais fora profissionalmente, só para matar.
Levantou da cama e foi para o banheiro. Precisava recompor-se antes de estar diante dos pais. Estava com uma fisionomia de quem não tomava banho fazia um mês! Por que será que a bebida deixa as pessoas feias no dia seguinte? Já vira muitas pessoas que bebiam e no dia seguinte pareciam outra. Que química formaria no organismo para ocasionar isso?
- Clarissa! Sua amiga Neuza ao telefone! – e sua mãe pegava as roupas espalhadas pelo quarto e juntava no braço para levá-las à lavanderia.
- Diga que ligo para ela daqui a pouco. – falou Clarissa debaixo da ducha.
- Está bem! – e a mãe saiu rápido rumo ao telefone.
Antes de ir tomar seu café da manhã Clarissa ligou para Neuza.
- Alô Neuza?
- Oi Clarissa! Até que enfim menina.
- Recebi seu telegrama.
- Que telegrama? Não enviei telegrama nenhum.
- Mas eu recebi um assinado por você.
- Assinado?
- Quer dizer, dizia ser seu!
- Mas não enviei nenhum telegrama. Mas olha! Ontem dois policiais estiveram aqui em casa e na casa da Valéria fazendo perguntas sobre você e o Maurício. Foi por isso que liguei.
- E o que eles queriam?
- Fizeram um monte de perguntas. Prefiro dizer a você pessoalmente. Para Valéria também perguntaram muita coisa. Quando você vem?
- Ainda não sei! Acho que esses policiais são os mesmos que foram a minha casa alguns dias atrás. Parece que a mãe de Maurício está preocupada com ele, e quer saber onde ele está.
- Mas tem mais amiga. Tem mais. Precisa vir logo para conversarmos. Assim por telefone não podemos esmiuçar.
- Está bem! Vou ver o que posso fazer! Avisarei assim que chegar. Está bem? Até logo amiga!
- Até logo! Mas venha, hein?
- Ok! Irei!
O que será esse "muito mais" que Neuza não quis falar? Enquanto pensava no telefonema Clarissa entrou para o café da manhã. Seus pais a esperavam pacientemente.
- Bom dia papai! Tudo bem mamãe?
- Tudo bem filha! O que sua amiga tanto queria? Ontem ela ligou três vezes.
- Assunto da faculdade. Ela pertence ao conselho e eles pediram para ela ligar. Nada de mais.
- Pensei que fosse muito importante, pelo tom de voz dela! Parecia preocupada.
- Neuza é assim. Qualquer coisa a deixa em polvorosa, enquanto não cumpre com a obrigação imposta a ela, não sossega. Fique tranqüila. Mas parece que vou ter de ir lá para resolver alguns detalhes sem importância acho eu, embora Neuza pense diferente.
- Sei como são essas pessoas – falou o pai – não descansam enquanto não fazem o que devem fazer.
- Pois é! Mas papai, que o senhor acha do Nandinho?
- Filha! Ele é bom rapaz, de boa índole, família muito boa. Parece que teve um problema com uma mulher na capital enquanto esteve lá, e não deu muito certo. Desde então não teve mais namoradas. Mas que interesse é esse agora por ele?
- Nenhum em especial. Ele foi muito gentil ontem. Gostei de seu jeito.
- Não vá fazer besteira filha. Maurício pode voltar e você se arrepender.
Clarissa viu o corpo de Maurício descendo as águas do mar, e a dor no peito começou fininha.
- Não papai, não farei nenhuma besteira. Porque acho que Nandinho não merece.
- Ainda bem!
Seja o primeiro a comentar:
Postar um comentário