Adelina Velho da Palma nasceu em Lisboa e é do signo Aquário. É licenciada em Matemática pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa onde foi assistente de Análise Matemática, após o que iniciou e seguiu uma carreira dedicada à Informática.
Começou a escrever em 2002, prosa e poesia. Tem três colectâneas de contos publicadas: AREIAS MOVEDIÇAS E OUTRAS HISTÓRIAS DE INQUIETAÇÃO, O GATO DAS OITO VIDAS e A BOA A MÁ E A VILÃ, sob a chancela da editora Pé de Página.
Fazendo uso de um estilo narrativo muito próprio, intenso e linear, desprovido de artifícios e figuras de estilo, a autora prende o leitor desde a primeira página, explorando com mestria a natureza misteriosa e desconcertante da alma humana. Comédia e drama convivem lado a lado nas suas narrativas de onde saltam mundos, sendo o leitor forçado a aderir ao seu jogo, deixando-se conduzir suavemente pelo meio das suas tramas admiráveis, aguardando o desvendar do enigma que cada uma das histórias encerra.
No que concerne a poesia, Adelina Velho da Palma prima pela escolha de temáticas originais, ao mesmo tempo que privilegia o rigor da rima e da métrica. Gosta particularmente de escrever sonetos, tendo já redigido algumas centenas.
Uma selecção de poemas assim como excertos das suas obras em prosa podem ser lidos na sua página pessoal adelinapalma.com
Qualquer contacto com a autora pode ser encaminhado para o endereço de email adelina.p@gmail.com
Sobre as obras da autora:
Resenha do livro Areias Movediças e outras histórias de inquietação, por Henrique Chagas
A RESENHA VENCEDORA SOBRE "UM ÚLTIMO TRAGO" , de Borboleta
Por Adelina Velho da Palma
Trata-se de uma história contada na primeira pessoa (eu) à laia de missiva, feita de um misto de desabafo, confidência e provocação.
A trama em si resume-se a um incesto, incesto esse que é perpetrado numa geração e repetido na seguinte, passando o protagonista de violado a violador.
O tema em si é um pouco estafado. O incesto é uma prática ancestral já sobejamente explorada. Todavia, "Um último trago" está muito bem conseguido, pois paira acima da vulgaridade do cinismo exagerado e do arrependimento piegas. Com efeito, o tom em que é feito o relato é equilibrado, exala serenidade e desprendimento, sem contudo atingir a insensibilidade. Tem qualquer coisa de fatal, de inexorável, como se o destino dos envolvidos estivesse previamente traçado, sobrepondo-se a quaisquer resquícios de vontade. Esta irrompe somente no último parágrafo, ainda que com uma certa timidez, que leva o protagonista a pedir um perdão antecipado à progenitora morta.
É essa mesma progenitora que (dado ter amado o filho ainda antes dele nascer) desencadeia as relações incestuosas. E é também ela que, ao retorquir com absoluta indiferença ao remorso inicial do filho/amante, o transforma num "aluno exemplar". A partir daí, mestra e pupilo vivem a relação impúdica com naturalidade, a ponto do nosso herói desejar que ela se torne pública. Desejo que a mãe/professora, com a sua maior experiência de vida, declina sem hesitações e com sustentado fundamento. E assim vão vivendo os dois, isolados de tudo e todos, suportando os resmungos "enraivecidos" e olhares reprovadores do resto da populaça.
Contudo, apesar da aparente candura do amor incestuoso, o protagonista não deixa de lhe reconhecer um certo carácter de ignomínia, materializado na geração e nascimento de sucessivas crias anormais, marcadas pelo estigma indelével da consanguinidade. Crias essas que são, uma a uma, mortas pelos progenitores.
No entanto, um dia, o milagre acontece. Nasce Lili, uma "bonequinha" perfeita. E aí o leitor pergunta~se com surpresa se o casal de amantes desejaria descendência. E percebe o logro da situação. Lili, de início amada por pai e mãe, acaba por ser olhada com despeito pela progenitora. Afinal a mãe/mestra já tinha deixado de o ser. Os papéis entre mãe e filho haviam-se invertido. E, perante a ameaça de um novo amor, mais jovem, sensual e igualmente incestuoso, que lhe vai roubar o amante, só resta à progenitora o derradeiro consolo de afogar o ciúme no esquecimento da morte.
Para terminar, saliento o paralelismo muito interessante que o autor estabelece entre tabagismo e sexualidade, que não é logo evidente, mas que ganha significado e relevância no desenrolar desta notável narrativa.
Imagem: SmokeWorks #41, de Mehmet Ozgur
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