Dos homens que a ergueram
não restam sequer testemunhas:
um pó de memória que seca a garganta.
De como retiraram o barro das distâncias
e o emularam em célula não restou a sujeira
nas roupas ou o câncer que os consumiu.
De como em fornos cozinharam os miolos
e o caldo das montanhas, nada sobrou:
talvez uma ficha em arquivo de manicômio
ou uma cratera que junte água salobra.
De como chegavam a seus lares –
felizes por ainda terem os dentes na boca –
nada se sabe. Se há quem o recorde,
não há de dizer algo que valha.
De como suportavam as horas
– tendo um copo de lágrimas e
um cão para lamber as feridas das mãos
– coisa alguma se relata:
ninguém anotou nada em lugar nenhum.
Por certo, os filhos dos que a ergueram
virão derrubá-la.
Disso, todos são testemunhas.
Imagem: David Meyer
1 Comentário
e eu testemunha da humanidade que ali estava: oprimida.
grande poema, camarada
abraços
jorge
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