- as 4 estações
Filó acorda e vai para o quintal observar o tempo. O sol brilha
com suavidade e a temperatura é amena. As flores e árvores do
jardim, por sua beleza e felicidade, indicam a quem quiser ver: é
primavera!
À medida que o dia avança, porém, o sol antes suave vai se
tornando abrasador, e a temperatura, de amena só conserva a
lembrança. As árvores se lamentam, sufocadas, sob ela as flores se
escondem e algumas chegam até a morrer por causa do calor.
Mesmo quem não quer ver é obrigado a concordar: é um verão
impiedoso, de fato, um verão daqueles!
Lá pelo fim da tarde, o calor diminui sensivelmente (graças a
Deus!). O sol, já velho no dia, não parece mais tão ameaçador. E
as flores – as que resistiram ao verão, é preciso frisar -, as flores
voltam a sorrir. De algumas árvores, no entanto, as folhas secas
começam a cair. Sem dúvida, é o outono dominando o pedaço.
A noite chega, finalmente, trazendo do sul um vento gelado. A
temperatura, que durante o dia atingira 30, 40 graus, agora não
passa de 9. É o inverno, com certeza, é a quarta estação do dia.
Filó, sujeito acostumado às instabilidades do tempo, não reclama
nem se impacienta: sabe que a manhã trará de volta a primavera.
Ou o verão. Ou o outono, quem sabe.
- novela
Os dias, com raras exceções, são todas iguais. Mas as noites,
ah!, as noites já são diferentes, têm uma luz própria, um clima
repleto de poesia e mistério. Para Filó, então, as noites são mais
que isso. Tudo por causa da novela.
Não importa o que esteja fazendo: às oito da noite, em ponto,
Filó morre para o mundo e renasce todo ansioso na sala, diante da
TV. Vai começar o capítulo da noite, e ele, é claro, não pode
perder. Porque a novela das oito, segundo suas observações, não é
apenas um folhetim barato como todos insistem. É algo
infinitamente superior, produto da mais alta qualidade, retrato fiel
do país em movimento. Mas o que interessa mesmo não é isso, só
isso: grudado à tela da TV, Filó, às vezes num só capítulo,
experimenta sensações e emoções que dificilmente encontraria
iguais no seu ralo cotidiano.
Devidamente justificado, Filó manda ao inferno o preconceito
e sofre na própria pele os dramas da sua novela predileta. E ri,
chora, se apaixona, odeia os vilões e torce, como todo mundo,
pelo clássico final feliz.
Na noite do último capítulo, então, que é para onde a trama
converge, encontramos um Filó já saudoso dos personagens, dos
amigos que se tornaram íntimos no decorrer dos meses e dos
capítulos. Um Filó que só não se desespera porque sabe: na noite
seguinte, às oito, tudo será diferente – não muito, mas diferente.
- malhação
Diante do espelho, assustado, Filó constata: a tal barriguinha
começa a crescer. Mas como? Ainda ontem isso não tava aqui! Ou
tava? Meu Deus, é o fim do mundo!
No dia seguinte, pela manhã, um determinado Filó vai,
correndo, para a academia de ginástica. Vou (uff!) transformar
essa barriga em músculos, muitos (uff!, uff!) músculos, vocês vão
ver.
Na porta da academia Filó hesita. Exercícios físicos são contra
os seus princípios. Sempre foram, aliás. Onde é que já se viu, eu
fazendo ginástica, aeróbica, musculação? Isso é que não! Prefiro a
barriga... Mesmo assim, curioso, ele espia pela janela: lá dentro,
refletidos nos espelhos, os homens suam, as mulheres fazem
caretas. Eu me recuso, é o que Filó pensa. Eles sofrem, tenho
certeza, eles sofrem.
Suando em bicas pelo impacto da cena, muito forte segundo
os seus princípios, Filó deixa a academia e se mete no buteco que
fica bem em frente.
- Suco de jaca – ele pede, exige quase. – Com bastante gelo e
açúcar.
- Malhando muito? – pergunta o sorridente balconista.
Filó encolhe a barriga. E responde:
- Demaaaais...
- filósoficas XI
- pequena reflexão sem culpa:
creio que a coisa que mais dá trabalho
nesse mundo é o direito ao pleno exercício da preguiça
- palavras
No bolso da calça Filó guarda palavras bonitas.
E outras nem tanto.
Pra não esquecer.
Pra uso futuro.
Porque um dia, sabe como é, as palavras faltam.
domingo, 26 de setembro de 2010
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FILOBÔNIO FILÓ - parte 12
autor(a): Parreira
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