Se a existência é um espectáculo de ficção
onde cada unidade formada se transmuda de ida em vinda
de coração em brancura
de estrondo em emudeço
como num teatro burlesco onde não existe pluralidade;
mas um agregado de eus.
Se as causas dessa existência acabam no momento dos aplausos
como acontece na abertura.
Então.
Pertencemos a um caos invulgar.
A um sistema que nos ensaia e que não mais acaba de nos exibir.
Expirados todos os argumentos insertos nos actos.
Tudo é silêncio e excentricidade.
E é nesse silêncio acróstico que reside a âncora que presidiu a elaboração da tese.
Nessa singularidade fantasiada de pluralidade
ninguém consegue entrever os passos do todo.
É num cantinho dessa cena incomensurável que assistimos à nossa própria
representação.
Um festival de eus emaranhados que presenciam o epílogo da sua própria
memória.
Pois;
se as resenhas são longas, os entreactos são curtos
e o aplauso-protesto é um ensaio de renúncia.
Uma formula solicita dum improvável reembolso.
“Reembolsar o quê?
Só se extingue um eu de cada vez
como cada eu se reveza;
e eu não tenho que esperar o fim de todos;
diz o ensaiador.
Revoltem a récita olhando-a do avesso
e quando chegarem ao começo
terão o reembolso.
Mais os juros.”
Theófilo de Amarante
domingo, 26 de setembro de 2010
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O homem e o teatro:Theófilo de Amarante (Fernando Oliveira)
autor(a): fernando oliveira
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