terça-feira, 14 de setembro de 2010

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O sumiço cruel

Ninguém sabia do paradeiro do menino. Simplesmente desaparecera. Ninguém viu o que ocorrera, embora o pessoal da vizinhança fosse categórico: “o menino estava na praça o tempo todo”. Um motorista de táxi chegou a relatar ao policial, que lá pelas oito da noite, havia parado seu carro junto à praça e que o menino havia lhe enchido o garrafão com água para completar o radiador. “Então, foi de madrugada, disse alguém, enquanto o povo dorme, os gatunos e pervertidos agem”.

Os jornais do dia seguinte já estampavam notícias sobre o desaparecimento do menino, mas nenhuma informação concreta serviu como pista do paradeiro daquele pretinho sorridente. Diziam que ele tinha origem belga, sabe-se lá por que razões. O fato era que ele era muito saliente. Nunca se calçava e sempre sem camisa. Pra falar a verdade, ele estava sempre nu! Vez ou outra e muito raramente, ele aparecia vestido com uma camisa listrada de cores bonitas e isso era um acontecimento onde morava. Pasmem, chegava haver foguetório e buzinaço. De modo geral, todos gostavam dele e não havia quem não contemplasse seu jeito maroto e digamos, fluídico...

Quem sabe se algum ensandecido e recalcado, sentindo-se incomodado com as impertinências do moleque, resolveu raptá-lo e acabar com seu jeito meio despudorado de ser. Era uma pista que a polícia não deveria descartar. Era o que todos pensavam.

As chamas da fornalha pareciam querer saltar, quando o homem, se é que podemos chamá-lo de homem, abriu a portinhola do forno da fundição. Sua cara avermelhou-se ao ser iluminada pelas chamas e ao se mover, sombras bruxuleantes revelaram a feiúra do monstro. Havia um estranho sorriso, de vingança talvez. O pretinho, nu, deitado no chão e completamente imóvel, esperava sua hora final.

Ninguém se deu conta do que viria acontecer. A polícia não tinha sequer testemunha e esse seria mais um caso de desaparecimento, que somente anos depois poderia ser resolvido.

O monstro decidido a cometer um assassínio tão brutal, tomou o menino nos braços e sem piedade qualquer, motivado por míseros trocados, lançou-o às chamas. Esse foi o mais doloroso e cruel fim que deram ao Manequinho. Mascote do glorioso Botafogo Futebol e Regatas.

Esse fato é real. Ocorreu em Botafogo, no Rio de Janeiro, lá pelos idos de 1990. Não houve botafoguense que não tivesse chorado por tanta maldade, sabe-se lá de algum desnaturado rubro-negro, tricolor ou vascaíno. Anos depois, um novo Manequinho apareceu por lá. Esse novo, carioca da gema e clone do belga, veio para continuar alegrando a cidade com seu chafariz.


FIM


Robertson Rébula

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