quinta-feira, 16 de setembro de 2010

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Olhos de Selva Azul [3] - Lenine de Carvalho
















III

Havia várias horas já que estava subindo o Rio Madeira, próximo à margem esquerda. O ruído do motor de pôpa era uniforme e desenvolvia uma boa velocidade, entretanto era necessário estar atendo o tempo todo, pois era comum encontrar troncos, às vêzes enormes, flutuando, descendo rapidamente a correnteza e uma colisão poderia ter conseqüências imprevisíveis.
Por volta do meio dia atingiu um dos marcos de sua viagem.

O Rio Abunã. Sentiu uma alegria indefinível quando o barco entrou nas águas verdes claras, transparentes do Abunã. Depois da imensidão do Rio Madeira, o Rio Abunã, que vinha da Bolívia e desaguava neste, parecia minúsculo, embora tivesse mais de 300 metros de largura naquele local.
Do lado esquerdo, ficada solidamente no barranco, numa grossa estaca, uma placa grande, de madeira um tanto deteriorada anunciava em letras negras sobre fundo branco:
"TERRITORIO BOLIVIANO"
__"Nenhum guarda. pensou. Nenhum posto de Fiscalização, nenhum edifício de Alfândega, ninguém armado para pedir papéis, documentos, revistar bagagens e fazer peguntas idiotas. Nenhuma cara desconfiada e mal humorada."
E assim, através do Rio Abunã, entrou na Bolívia.
As águas eram de um tom de verde claro magnífico, transparentes, deixando em alguns pontos ver a areia branca do fundo e peixes que passavam.
A paisagem era soberba. Árvores imensas cresciam nas duas margens, cipós e trepadeiras floridas pendiam dos galhos, vez por outra, um peixe assustado pelo movimento do barco e o ruído do motor, saltava à flor da água com estardalhaço.
Resolveu navegar mais próximo à margem direita, pois logo começaria a entardecer e queria arranjar um bom lugar para acampar e passar a noite.
A paisagem tropical continuava a deslizar ante seus olhos, apenas rio, selva, sol forte e o azul intenso do céu, nenhuma casa, em nenhuma das margens do rio, nenhum vestígio de nenhum ser humano, então, um bando de araras coloridas em vermelho, amarelo e verde, passou voando baixo, conversando entre si com gritos agudos e roucos.
Avistou então, uma centena de metros à frente, uma clareira embaixo de uma figueira gigantesca, cujos galhos mais baixos roçavam a água.
Diminuiu a velocidade e aproximou mais o barco do barranco da margem. Desceu do barco, amarrou-o solidamente numa das raízes expostas da figueira e foi inspecionar o lugar. Era perfeito. Areia fina e limpa, sombra, e não havia moitas de arbustos muito próximas que pudessem ocultar algum animal desejoso de caçar alguma comida diferente.

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