quinta-feira, 16 de setembro de 2010

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Erva-Doce - José Gil

























“Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
Não aquece nem ilumina.”

C.D. A.




andarilho ando com o dedo no caleidoscópio, mantra
curtes humilhar a ave pequena da solidão do sono
nos outros lados onde a erva doce reduz tudo a cinzas
e ainda as varre de negro num beijo gótico e ácido
o pircing do sacrifício lingual , desce irmão o bairro e
toma a cova da moura como silvas e pó. ninguém te
explora. explora-te a ti próprio numa boé dass.
a submissão do teu ser acorda no andarilho a ave onde
o sol poente nasce devagar na terra. tudo o que curtes é
o contrário do que agora sentes. e já não sentes nada
ama surfando em outras águas. o guincho espera-te
sentado agora na lagoa rodrigues de freitas, imagino
um poema incoerente que morde os fortes e doe aos fracos
que o entendem na pedrada superior, no circo voador do rio
távora no caneiro de alcântara bem fundo no novo casal
ventoso, fico sentado neste penhasco e escrevo-te
se e quando e como me quiseres ler. quando o labor e o
jogo acabam e o poema é abolido e canta.




Imagem: Orhan Köse

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