sábado, 25 de setembro de 2010

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PASSAGEM - Mariela Mei











































Não seria difícil concluir que meu enterro solene
Vivido por algumas vidas tão bonitas
É coisa de Deus.
Teria eu, outrora, dito a este mundo algo parecido,
Algo como um aviso para as horas de dor.

Assim, a esta hora digo: eu passo sempre.
Mais do que as coisas que sempre passam -
Sou veloz, fugaz.
Sou um raio que atinge o breu noturno
E deixa nada senão o ruído que gela a espinha.

Eu passo - sempre passarei...

Assim tem sido meu caminho todo:
Um percurso de passagem brusca e doce,
Revoluções internas.
Não sustento qualquer espécie de pena por mim
Mas sinto em não conseguir ficar mais instante.

Talvez aquela fosse minha última passagem
Para então criar brilho pleno em algo que fica.
Eu precisava disso.
Uma última passagem, enfim.
Para fugir do medo de assentar. Longamente.

São tantas as coisas do mundo que eu não sei.
Mas sei que brotei infinitas vezes, e não cravei raizes.
Vou...
Sou uma parábola em dilúvio desenfreado
Eu transbordo como os cantadores do amor.




Imagem: Kenvin Pinardy






3 comentários

lanza

Lindo.
É emoção, brilho, puro talento.

agostinho

parabéns, maia. muito orgulho!

norma

Amei... tambem a sensibilidade...