quinta-feira, 21 de outubro de 2010

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Mistérios da floresta - Sônia Pillon


A noite escura já tinha tomado conta da floresta, que se mantinha misteriosa, majestosa. De tão fechada, a mata dava pouco espaço para a luminosidade das estrelas, que piscavam como nunca. Somente a lua cheia parecia driblar aqui e ali a copa das árvores com seus fachos de luz. Enquanto o vento de outono soprava e agitava as folhas, uma coruja se mantinha imponente, empoleirada no alto de uma embaúva, com seus olhos grandes e atentos... As demais aves, se dividiam entre buscar alimento e proteger os filhotes de predadores.

Vagarosamente, o tatu saiu da toca, desconfiado: qualquer ruído ou movimento estranho poderia revelar a presença de um coati, ou cachorro-do-mato. A jaguatirica, ardilosa, se preparava para a caça, assim como as cobras peçonhentas, prontas para dar o bote. Os sapos coaxavam na lagoa. Todos os animais silvestres seguiam na selvagem luta pela sobrevivência!

Inebriado com os encantos da mata atlântica, o índio caingangue parou por um momento sua caminhada pela trilha que o levaria de volta à aldeia, e por breves segundos respirou fundo aquele ar puro, inalando o cheiro da relva fresca. Pouco depois,viu o saci pulando num pé só com o cachimbo, e lá adiante, vislumbrou o curupira com seus pés virados para trás. Aquela é a sua terra, o lugar onde seu povo tira o seu sustento e é feliz! Para defendê-la, ele seria capaz de sacrificar a própria vida, se fosse preciso!

De repente, o índio ouviu ao longe: "Ei, você! Acorda!". Era Maria que o chamava, interessada em comprar um de seus belos cestos de vime. Assustado, ele arregala os olhos e cai na real: foi apenas um sonho, uma volta ao tempo em que seu povo era o dono da terra e a mata era preservada!...





Sônia Pillon é jornalista e escritora. Texto publicado na coletânea da autora, "Crônicas de Maria e outras tantas - Um olhar sobre Jaraguá do Sul", em julho de 2009, pela Design Editora ltda.
 
 
 
Imagem: autor ignorado
 
 
 
 

3 comentários

jorge vicente

Um dos seus Maiores textos, querida Amiga.

Até dá para sentir a terra, as árvores, essa força que é a terra índia brasileira!!!!

Muitos beijinhos
Jorge

SÔNIA PILLON

Obrigada, Poeta do Algueirão! Realmente, o Brasil tem palmeiras onde canta o sabiá...

nonexistent

Parabéns, Sônia, seus textos continuam surpreendendo.
Abraços.