Era a casa onde Renan e eu deixamos o carro em frente, no dia em que fizemos o passeio até o farol. E lembrei então, que era ela a linda moça que passou por nós e subiu pelo caminho que havíamos deixado
Falei:
– Renan e eu vimos você no outro dia subindo por este caminho.
– Mesmo? Eu devia estar indo para o meu cantinho preferido lá no alto. Passo muitas horas de minha vida lá. Desde a infância que o espaço próximo ao farol é meu refúgio. Prefiro estar lá que qualquer outro lugar do mundo.
– É realmente lindo lá em cima.
– Não é só lindo! É místico! Mágico! Prazeroso!
– Você fala de um jeito que me deixa com vontade de ir lá também.
– Então vamos!
E unindo o ato às palavras começou a subir correndo pelo caminho pedregoso. Segui atrás.
Ao chegarmos ao topo eu resfolegava como se o ar estivesse escasso, e minhas pernas estavam bambas. Não estava acostumada a fazer essas proezas de corre-corre pelos caminhos de pedras soltas. Reika ria de minha fisionomia pálida pelo esforço despendido. E olha que eu não sou nenhuma fracote! Pelo contrário! Sou bem disposta e saudável! É só uma questão de costume e prática! Acho eu.
Na beira do penhasco que dava para o mar, ela parou e ficou de braços abertos sentindo o vento nos cabelos e no rosto. O belo corpo realçado pelo biquíni amarelo se destacava no azul profundo do céu no horizonte. Parei a seu lado. Olhei as águas ondulando e os barcos coloridos sobre as ondas. Repentinamente Reika deu um grito e disse:
– Meu Deus! Santa Sara Kali! Não posso fazer nada daqui.
Olhei espantada para sua fisionomia que estava pálida, e seus olhos se apertavam olhando diretamente para um barco que se dirigia aparentemente muito rápido, em direção às pedras do morro do farol.
– Que houve? – perguntei sem entender nada.
Reika apenas firmou mais o olhar, e estendeu os braços em direção ao barco que nesse instante estava dando voltas em cima das ondas que se espatifavam nas pedras. Ela continuava olhando firme para o barco. Fiquei olhando também, e vi horrorizada que o barco levado por uma daquelas ondas se esborrachou nas pedras. Reika permanecia calada com os olhos firmes nos destroços. Em instantes algumas pessoas começaram a surgir das águas, e agarrando-se às pedras foram saindo para um ponto onde havia um pequeno espaço de areia. Minutos depois estavam reunidos e abraçavam-se. De onde estávamos não se podia ouvi-los, mas dava para entender pelos atos que estavam felizes por estarem vivos. Achei que estavam vivos por milagre, porque seu barco havia sido destroçado nas pedras e os restos sumiram nas águas revoltas da encosta. As pessoas aos poucos foram contornando as pedras até um lugar onde era mais fácil chegarem à praia. Olhei para Reika. Com os braços caídos ao longo do corpo ela olhava o mar, absorta. Seu rosto demonstrava que já estava normal. Perguntei:
– Foi um susto não?
– É! Ainda bem que foi só o susto.
– Por que você falou que não podia fazer nada?
– Foi só um reflexo de impotência ao ver que o barco ia espatifar-se nas rochas, e daqui dessa altura não podia ajudar.
– Interessante! A impressão que tive foi de que de alguma forma você os ajudou!
– Verdade? Mas quem ajudou foi a força Divina! Nós somos apenas o canal dessa manifestação.
Não falei mais nada! Nunca fui muito religiosa nem muito rezadeira! Mas tinha o maior respeito por quem o era. E confio muito que Deus está sempre presente onde Ele for necessário. Na hora certa!
Sentamos na pedra parecida com um banco e ficamos olhando o mar. De repente Reika disse:
– Nada na vida da gente acontece por acaso. Por algum motivo você e eu nos encontramos hoje, viemos até aqui, assistimos juntas o salvamento divino de umas pessoas que nunca vimos na vida, e que talvez nunca venhamos a vê-las novamente.
– Você também acredita nisso? Eu sempre acreditei que tudo tem seu motivo e sua hora para acontecer.
– Pois é! Vou contar a você uma história.
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