segunda-feira, 11 de outubro de 2010

0

Olhos de Selva Azul [8] - Lenine de Carvalho
























VIII. 



Quando o sol acordou, Arauá pôs-se a caminho.

Levava uma espécie de sacola, grande, feita de couro de cervo, atravessada no peito. Na mão esquerda, o arco, grande, feito do cerne de uma palmeira, tostado no fogo, para dar-lhe elasticidade, e mais cinco flechas, três de combate, e duas para pesca, com pontas de osso de tornozelo de jacaré, que tinha uma farpa natural e uma vez penetrada, não se soltava mais. Na mão direita, a borduna, negra, pesada, cortante e pontuda, como uma espada primitiva, feita do mesmo material que o arco.

O vale das onças negras era um lugar muito bonito.

Arauá gostava de ir lá. Para si mesmo, havia colocado esse nome no lugar, pelo grande número de onças dessa cor que lá encontrara, quando por acaso, havia descoberto o vale. Ficava entre duas colinas grandes e suaves, tudo coberto por árvores altíssimas, mas o chão era surpreendentemente limpo, sem espinheiros ou cipós entrelaçados que quando prendiam-se de árvore em árvore, tornavam impenetráveis certos lugares. Mas ali não, podia-se caminhar sem esforço, por entre as altas árvores, e enxergar-se muito longe entre os troncos, e na terra escura e fértil cresciam inúmeras das plantas raras que Arauá necessitava para fabricar seus remédios.

Sem pressa, Arauá caminhava. Pois na selva, ninguém pode ter pressa. Com passo leve e ágil, Arauá ia se recordando do vale. Não sabia porque havia tantas onças negras reunidas no mesmo espaço de selva, ainda que amplo.

Mas, o que mais agradava a Arauá, era que ele sentia que a entidade que habitava aquele lugar, era uma entidade boa, benéfica, elevada, de harmonia e amor.

Arauá sentia-se bem naquele lugar, percebia que inclusive suas meditações, conclusões, e descobertas interiores, aconteciam ali, de uma maneira mais intensa e ao mesmo tempo, suave e natural.

Arauá durante o dia inteiro caminhou seguindo a margem do riacho que passava em frente a sua Oca e que ia desaguar no verde rio que os índios chamavam de "Tawáti" e os homens brancos de Abunã.

Quando o sol foi dormir, Arauá chegou ao "Tawáti".

Com a última claridade do dia, preparou junto a uma grande pedra, um lugar para dormir, e comeu várias frutas que havia apanhado pelo caminho.

Quando a escuridão chegou, Arauá deitou-se e adormeceu imediatamente.



Seja o primeiro a comentar: