IX .
Deitado na rede, lutava para não se transformar num sentimentalóide, mas não conseguia deixar de pensar nela.
Lembrava-se de quando a havia visto pela primeira vez...
Ela tinha entrado em seu gabinete e muito educada e respeitosa lhe havia dito que estava preparando uma tese de Literatura Comparada, e necessitava de orientação e ajuda em relação a escritores espanhóis contemporâneos.
Ele levantou-se ao vê-la. Era de uma beleza estonteante.
Os cabelos louros compridos pareciam de ouro, a pele também era cor de ouro.
Os seios altos e redondos. Pernas e nádegas perfeitas. Mas o que mais atraia a atenção era o rosto.
Tinha uma luminosidade própria. Os lábios cheios e bem desenhados. Os olhos que eram de um azul claro límpido, ao notarem a perturbação dele, foram de repente pontilhando-se de reflexos verdes, até se transformarem num misto indefinível de azul e verde.
Sem perceber que estava olhando fixamente e em silêncio por um tempo demasiado longo para dentro daqueles olhos, pensou: "Parecem o azul do céu a tocar o verde da selva, ao longe, no horizonte!...
Tem olhos de selva azul..."
Deu-se conta então, que estava encarando-a há muito tempo e em silêncio e que ela havia parado de falar, e começava a ruborizar-se.
__"Desculpe-me! Peço-lhe mil perdões por tê-la olhado dessa maneira, mas é que vi dentro dos seus olhos algo que há bastante tempo não vejo, que gosto muito e que já me faz sentir saudades."
__"E eu poderia perguntar-lhe o que é esse algo?"
__"A selva."
__"A selva?"
__"Sim, é onde costumo escrever."
__"O senhor diz que escreve na selva?"
__"Sim, mas por favor, não me chame de senhor, o senhor está no céu, dizem. E como nós estamos na terra, e eu não gosto de formalidades, por favor trate-me por você. Estou à disposição, com meus parcos e humildes conhecimentos e também a minha pobre biblioteca particular."
A partir daquele dia, viam-se quase todos os dias em seu gabinete na Universidade. Ela era inteligente e sensível, tinha uma boa base cultural e falava fluentemente o espanhol, coisa imprescindível para o trabalho que se havia proposto a fazer. Com o passar dos dias foi sentindo que uma afeição cada vez maior por ela, e também uma crescente excitação sexual. Na verdade, estava surpreso por sentir-se perturbado sexualmente por ela, pois pela própria natureza de seu trabalho, estava acostumado a ver-se cercado de garotas bonitas e já havia possuído uma infinidade delas. Como era solteiro e morava sozinho e tinha um poder aquisitivo relativamente alto, as coisas eram bastante fáceis.
Geralmente mantinha romances curtos com alguma aluna e ocasionalmente com alguma colega da Universidade, mas nunca por um tempo suficientemente longo que pudesse transformar-se em alguma espécie de compromisso, ou começasse a restringir sua liberdade pessoal.
Também a tinha estado apaixonado antes, e não gostara da experiência.
Um dia, convidou-a para jantar. Ficou sabendo então que ela morava sozinha num pequeno apartamento, e ficou de apanhá-la às 19,30 horas. Quando chegou lá, surpreendentemente ela estava pronta, esperando-o. Estava linda, num vestido branco, simples, e os cabelos louros e brilhantes soltos, caindo até a metade das costas. Não usava nenhuma jóia, nem um simples anel ou brincos. Nada. Durante o jantar, ela falou muito pouco de si mesma, mas mostrou-se interessadíssima em tudo que ele dizia.
Ele contou-lhe de suas andanças pela selva, de seu espírito explorador, de sua identificação com a natureza primitiva, que todos os anos, desde há muitíssimo tempo, passava de dois a três meses no mínimo, acampado sozinho pelas matas sul americanas, e que as idéias mestras ou embriões de seus trabalhos literários haviam nascido em plena selva.
Falou-lhe das várias tribos indígenas com as quais havia convivido, dos idiomas e dialetos primitivos que conhecia, divertiu-a contando-lhe casos engraçados ocorridos em caçadas e pescarias, dos países que já havia visitado, de seu trabalho na Universidade.
Falaram sobre poesia, Literatura Universal, a situação política e econômica do mundo, as religiões orientais, e ele descobriu espantado que ela possuía uma soma de conhecimentos invulgar para a sua idade.
Percebeu, mais assombrado ainda que ela gostava dos mesmos livros e autores que ele, que tinha uma sensibilidade profunda e perigosa e que podia magoar-se com muita facilidade. Por volta de uma hora da manhã, levou-a de volta para seu apartamento.
Ela despediu-se dele na porta, dizendo:
__"Muito obrigada pela noite maravilhosa e inesquecível que você me proporcionou. Não imagina o quanto eu estava precisando disso. Muito obrigada."
__"Eu é que devo agradecer-lhe pela oportunidade que você me deu de falar tanto sobre mim mesmo. Acho que eu também estava precisando disso."
Repentinamente, não tinham mais o que falar um ao outro. E ela olhava-o com aqueles olhos azuis, onde começavam a misturar-se os verdes de todas as cores, então, ele tomou seu rosto entre as mãos, inclinou-se sobre ela e muito lentamente, levemente, comprimiu seus lábios sobre os dela, com uma ternura infinita, como se estivesse beijando algo muito frágil, como se estivesse acariciando uma flor...
Após beijá-la, olhou-a demoradamente, em silêncio, e disse: __"Boa noite, olhos de selva azul!"
Deitado na rede, lutava para não se transformar num sentimentalóide, mas não conseguia deixar de pensar nela.
Lembrava-se de quando a havia visto pela primeira vez...
Ela tinha entrado em seu gabinete e muito educada e respeitosa lhe havia dito que estava preparando uma tese de Literatura Comparada, e necessitava de orientação e ajuda em relação a escritores espanhóis contemporâneos.
Ele levantou-se ao vê-la. Era de uma beleza estonteante.
Os cabelos louros compridos pareciam de ouro, a pele também era cor de ouro.
Os seios altos e redondos. Pernas e nádegas perfeitas. Mas o que mais atraia a atenção era o rosto.
Tinha uma luminosidade própria. Os lábios cheios e bem desenhados. Os olhos que eram de um azul claro límpido, ao notarem a perturbação dele, foram de repente pontilhando-se de reflexos verdes, até se transformarem num misto indefinível de azul e verde.
Sem perceber que estava olhando fixamente e em silêncio por um tempo demasiado longo para dentro daqueles olhos, pensou: "Parecem o azul do céu a tocar o verde da selva, ao longe, no horizonte!...
Tem olhos de selva azul..."
Deu-se conta então, que estava encarando-a há muito tempo e em silêncio e que ela havia parado de falar, e começava a ruborizar-se.
__"Desculpe-me! Peço-lhe mil perdões por tê-la olhado dessa maneira, mas é que vi dentro dos seus olhos algo que há bastante tempo não vejo, que gosto muito e que já me faz sentir saudades."
__"E eu poderia perguntar-lhe o que é esse algo?"
__"A selva."
__"A selva?"
__"Sim, é onde costumo escrever."
__"O senhor diz que escreve na selva?"
__"Sim, mas por favor, não me chame de senhor, o senhor está no céu, dizem. E como nós estamos na terra, e eu não gosto de formalidades, por favor trate-me por você. Estou à disposição, com meus parcos e humildes conhecimentos e também a minha pobre biblioteca particular."
A partir daquele dia, viam-se quase todos os dias em seu gabinete na Universidade. Ela era inteligente e sensível, tinha uma boa base cultural e falava fluentemente o espanhol, coisa imprescindível para o trabalho que se havia proposto a fazer. Com o passar dos dias foi sentindo que uma afeição cada vez maior por ela, e também uma crescente excitação sexual. Na verdade, estava surpreso por sentir-se perturbado sexualmente por ela, pois pela própria natureza de seu trabalho, estava acostumado a ver-se cercado de garotas bonitas e já havia possuído uma infinidade delas. Como era solteiro e morava sozinho e tinha um poder aquisitivo relativamente alto, as coisas eram bastante fáceis.
Geralmente mantinha romances curtos com alguma aluna e ocasionalmente com alguma colega da Universidade, mas nunca por um tempo suficientemente longo que pudesse transformar-se em alguma espécie de compromisso, ou começasse a restringir sua liberdade pessoal.
Também a tinha estado apaixonado antes, e não gostara da experiência.
Um dia, convidou-a para jantar. Ficou sabendo então que ela morava sozinha num pequeno apartamento, e ficou de apanhá-la às 19,30 horas. Quando chegou lá, surpreendentemente ela estava pronta, esperando-o. Estava linda, num vestido branco, simples, e os cabelos louros e brilhantes soltos, caindo até a metade das costas. Não usava nenhuma jóia, nem um simples anel ou brincos. Nada. Durante o jantar, ela falou muito pouco de si mesma, mas mostrou-se interessadíssima em tudo que ele dizia.
Ele contou-lhe de suas andanças pela selva, de seu espírito explorador, de sua identificação com a natureza primitiva, que todos os anos, desde há muitíssimo tempo, passava de dois a três meses no mínimo, acampado sozinho pelas matas sul americanas, e que as idéias mestras ou embriões de seus trabalhos literários haviam nascido em plena selva.
Falou-lhe das várias tribos indígenas com as quais havia convivido, dos idiomas e dialetos primitivos que conhecia, divertiu-a contando-lhe casos engraçados ocorridos em caçadas e pescarias, dos países que já havia visitado, de seu trabalho na Universidade.
Falaram sobre poesia, Literatura Universal, a situação política e econômica do mundo, as religiões orientais, e ele descobriu espantado que ela possuía uma soma de conhecimentos invulgar para a sua idade.
Percebeu, mais assombrado ainda que ela gostava dos mesmos livros e autores que ele, que tinha uma sensibilidade profunda e perigosa e que podia magoar-se com muita facilidade. Por volta de uma hora da manhã, levou-a de volta para seu apartamento.
Ela despediu-se dele na porta, dizendo:
__"Muito obrigada pela noite maravilhosa e inesquecível que você me proporcionou. Não imagina o quanto eu estava precisando disso. Muito obrigada."
__"Eu é que devo agradecer-lhe pela oportunidade que você me deu de falar tanto sobre mim mesmo. Acho que eu também estava precisando disso."
Repentinamente, não tinham mais o que falar um ao outro. E ela olhava-o com aqueles olhos azuis, onde começavam a misturar-se os verdes de todas as cores, então, ele tomou seu rosto entre as mãos, inclinou-se sobre ela e muito lentamente, levemente, comprimiu seus lábios sobre os dela, com uma ternura infinita, como se estivesse beijando algo muito frágil, como se estivesse acariciando uma flor...
Após beijá-la, olhou-a demoradamente, em silêncio, e disse: __"Boa noite, olhos de selva azul!"
Seja o primeiro a comentar:
Postar um comentário