quarta-feira, 13 de outubro de 2010

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Os Ciganos - Capítulo V

Capítulo V



Fiquei curiosa em saber mais sobre a cigana que não era cigana, amiga de Miguel e namorada do amigo de Renan.

Então, no dia seguinte fui à praia. Andando na areia com os pés descalços sentindo a frescura da água bater nos tornozelos, vi Miguel e Sara empenhados em seu ganha pão. Ela dançava ao som das castanholas, e cantava uma melodia suave enquanto meneava o belo corpo. Vez ou outra parava e se aproximava de uma pessoa para ler sua mão. O encanto dela fazia todos os turistas lhe darem dinheiro. Ela agradecia com um grande sorriso e continuava cantando e dançando. Os abundantes cabelos negros se moviam ao ritmo da música. Aproximei-me de Miguel que estava em pé fora da roda que formou em volta de Sara.

– Olá! – falei alegre.

Ele virou-se como saindo de um sonho, e ao ver-me sorriu.

– Olá! Veio ver Sara dançar?

– Na verdade vim dar um passeio já que estou sem emprego, e nada mais importante a fazer.

Ele segurava uma arara onde estavam pendurados vários objetos, como brincos, sandálias coloridas, saídas de banho, chapéus com flores e sem flores. Uma quantidade bem grande de mercadoria a oferecer aos banhistas e turistas. Era seu ganha-pão.

Miguel apontou para o lado e mostrou que Reika se aproximava. Era uma mulher de parar o trânsito. Vestia um biquíni muito pequeno, amarelo, contrastando com sua pele bronzeada, e as longas pernas em passo delicado davam a ela um ar de modelo. Os negros cabelos ondulavam com o bater da brisa do mar. Não tinha sequer um dos frequentadores da praia que não virassem para olhar. Ela e Sara tomaram a cena na areia.

– Como elas são lindas! – falei.

E Miguel passou a comparar as duas ciganas, díspares nos trajes, mas lindas cada uma em sua personalidade.

– Olhando bem – falou Miguel - elas se parecem um pouco. No entanto elas pertencem a grupos diferentes, Calom e Rom. Mas os ciganos têm um semblante parecido, mesmo que não sejam de um mesmo grupo. Acho que é porque somos descendentes de uma raça vinda da Índia e espalhadas pelo mundo em grupos diversos.

Reika se aproximou de Miguel e lhe deu um beijo estalado na face. Olhou-me e perguntou:

– Você é a namorada do amigo de Andy?

– Sim!

– Olha só! Que bom encontrá-la! Quer passear comigo pela praia?

Demos um adeusinho a Miguel e fomos em direção à água. Ela passou a tagarelar sobre as pessoas que há essa hora lotam todo o litoral, e que não tem o menor respeito com a natureza. Jogam lixo na areia e na água, sem se preocupar que isso pode prejudicar o ambiente que eles mesmos irão precisar amanhã. Sem ter muito que falar, deixei que ela tomasse conta da conversa. De vez em quando eu concordava com alguma coisa quando ela dizia:

– Concorda?

E ela continuou, dizendo que se fossemos perguntar a oitenta por cento das pessoas que estavam ali torrando o bumbum ao sol sobre suas vidas, ficaríamos sabendo que o carro delas está financiado, a moradia também é financiada ou pagam aluguel, as roupas que usam são compradas a perder de vista no cartão de crédito, os móveis de suas casas foram comprados a prestação em alguma loja qualquer, e muitos outros créditos mais.

– Conheço muita gente assim – falei.

– Também conheço – disse Reika - e então você acha que pessoas desse tipo vão se preocupar com o futuro do planeta, se nem se preocupam se podem pagar as contas do final do mês?

E assim nessa conversa fomos andando pela areia molhada, por um grande trecho até chegarmos ao pé do morro onde fica o farol. Contornamos e chegamos ao caminho de pedras meu conhecido. Ela falou:

– Moro ali naquela casa.

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