Círio de N.S. de Nazaré, a maior procissão religiosa do mundo, onde mais de dois milhões de pessoas homenageiam a Santa Padroeira do Pará pelas ruas de Belém. Da sua berlinda, a vitrine da esperança, a nossa Virgem santíssima abençoa seu povo sempre no segundo domingo de outubro. 218 anos de devoção. De segredos e mistérios. De esperança de renovarmos nossa fé ou pedir que ela não abandone nossos corações que um dia a vida sabotou. Este ano a procissão teve a duração de sete horas da mais pura emoção. Uma corrente, entre a terra e os céus.
Não sei, Virgem Mãe, se hoje te peço pouco ou é imenso meu suplicar. Mas na verdade, quando passares pelas ruas de Belém na tua redoma de esperanças, rodeada de uma floração, que de tão bela causa uma doce inveja a todos os girassóis nos campos, será impossível meu olhar não encontrar o teu olhar e te pedir que me ensines como não mais vacilar no andar da minha fé.
Estaremos, muitos, pés descalços e com a alma ajoelhada para te reverenciar. Caminharemos no asfalto fervente, mas não te preocupes, Mãe da humildade, com o sol inclemente que nos incendeia a pele, se é ele que reflete na vitrine que te guarda as aflições das nossas almas. Nem por um instante nos desanima a sede incessante, se nossos lábios querem na verdade beber da fonte da tua fé. Ensina-nos, no teu hoje andar terreno, a acalmar as inquietudes dos nossos corações, as certezas do passado, as incertezas do agora, o temor pelo amanhã.
Olha, Mãe dos céus, as nossas faltas e com tuas mãos invisíveis, santas, milagrosas, tece diante o nosso caminhar um chão de esperanças. Risca nesse solo ardente o segredo da vida, a cor alva do infinito. Faz desse sol ardente, Mãe de Belém, um círio em altas chamas andantes nas mãos dos anjos e que seja essa a luz que nos guie, um sinal dos céus, como nas noites viajam as cadentes estrelas e no espaço sem fim flutua a profusão da lua cheia.
Ensina-nos a não sermos línguas descrentes, lábios cerrados, mudos ouvidos, quando é momento de orações, de cantos divinos, de buscar a fé, de pedir e agradecer, de dizer, de chamar, de suplicar, Mãe de Deus olha e vela por nós, que sós, sem ti, nada somos.
Perdoa essa nossa fraqueza, essa centelha que acende e apaga, essa dúvida que naufraga nossos corações insensatos. Tira de nós, do peito que dói, essas dores de saudades, essa invisível maldade, esse pensamento delirante que nos rouba a serenidade, a alvura da paz. Oferta-nos a fartura da esperança. O que é miragem transforma num remanso de águas douradas, abençoadas, de cujas margens alçam vôos todos os anjos.
Mãe Bondosa, alivia o nosso pranto, a nossa ânsia, a nossa pressa de vermos curadas as feridas do corpo, da alma, de todo o povo inocente. Sabemos que são muitos os pedidos, mas olha nas calçadas escuras, a indiferença do mundo estampada nas faces medrosas de tantas crianças desafortunadas, lutando por migalhas, sem sonhos para sonhar, dormindo debaixo das árvores esgalhadas, vidas que a vida esqueceu, corpos que o tempo definha, cujos efêmeros futuros caminham acelerados para as entranhas da terra.
Mãe amorosa, assim como sabemos da tua bondade, do teu terno olhar, de ouvir de tantas bocas teus milagres infindos, sabemos, também, que sempre existirão as dores terrenas, as saudades incuráveis, os pobres no mundo, as vidas indigentes, mas como somos humanos, seremos sempre pedintes de passos vacilantes e com nossas mãos e corações quase vazios rogamos que teu manto perfumado nos cubra de esperanças e que na selva da vida guies nosso andar para que voltemos a encontrar o pó miraculosos da fé que um dia descuidamos e permitimos que nossas tempestades afetivas escondesse nos vãos do mundo.
Perdoa, Mãe da Vida, e nos abençoa com a candura do teu olhar.
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