sábado, 6 de novembro de 2010

0

A MORTE ANUNCIADA DE UM POEMA

Debruçado sobre o aborto do meu poema
Observo, pálido, a derradeira gota de tinta
Que vertiginosamente escorre até o esgoto
Da inspiração, passando pelo ralo do ignoto,
Enquanto a rosa, petrificada pela ausência de seiva,
Curvando-se num vaso quebrado e opaco
Onde só vicejam formigas,
Eleva a sua súplica à uma divindade
Que não mais existe.

No quarto, que outrora foi alcova,
Palco de beijos e versos afins,
Furiosos e retumbantes,
Que mal respira e implode-se
Em cheiros perversos
De crueldade e abandono,
Ei-la! A lacônica musa,
A minha musa que serve outros Deuses.

Nesse quarto meu dom padece,
Esqueço tudo e me esqueço,
E espero, espero Euterpes:
Para juntar os outros três quartos
E ser inteiro.

Jean-Pierre Barakat, 07.09.2008

Seja o primeiro a comentar: