Por alguns minutos Reika ficou sem falar nada apenas olhando para o horizonte, depois me olhou e continuou:
Passei a ficar mais pensativa. Conversava menos com os amigos da faculdade, em casa fechava-me por horas dentro do quarto, e ia mais vezes ao alto do morro. Minha mãe um dia preocupou-se com minha sisudez e perguntou:
– Reika! Está com algum problema minha filha?
– Não mamãe! Estou ótima!
– Vejo você muito taciturna ultimamente.
– Não tem nada de errado. Só ando preocupada, nada mais. Assim que passarem os períodos de provas voltarei ao normal.
– Assim espero. Nunca a vi tão quieta em toda minha vida!
– É! E nem me convida mais para passeios ao morro! – falou meu irmão com cara de muxoxo.
– Desculpem-me! Não achei que estava assim tão quieta. Mas o tempo passa e tudo se arranja. Vão ver, logo voltarei ao normal.
Na verdade eu estava quieta por fora. Mas em meus pensamentos estava constantemente em contato com as vidas paralelas. As conversas intensificavam-se mais, e cada dia a imagem da vida paralela que me seguia era mais nítida. Aos poucos eu vislumbrava uma pessoa que era eu mesma, mas que andava a meu lado em uma dimensão diferente da minha, e que era paralela a essa. Um tanto confuso, mas real.
Nos contatos que fazia com a identidade paralela que viajava em minha estrela, eu trazia cada vez mais conhecimento da vida, conhecimento para usar a vida e não ser usada por ela. Isso me deixava contente, porque as encruzilhadas que apareciam eu as definia logo, e não ficava mais a me perguntar o que fazer. Isso ajudava muito mesmo.
Como naquele dia em que um namorado que tive disse não poder ir a meu encontro porque ia estudar. Senti uma necessidade grande de ajudá-lo e me dirigi até a casa dele. Fui entrando como sempre fazia desde que o namoro ficou firme, mas parei subitamente ao ouvir conversas no escritório onde ele estudava. As vozes eram conhecidas, alguma coisa me dizia para que prosseguisse. Decidi entrar, e como não fui pressentida, vi meu namorado e minha melhor amiga abraçados, aos beijos e risos no sofá do escritório. Normalmente teria falado alguma coisa, mas minha entidade paralela disse para sair dali e esquecer. Sai e nunca mais falei com o rapaz. Ele provavelmente nunca entendeu o porquê, já que não me viu e eu também não falei nada sobre o que vi. Mas entendi que minha vontade de ajudar em seus estudos, livrou-me de ter como companheiro alguém que não merecia minha confiança.
1 Comentário
Simples, conciso e, conforme o padrão de criação "divina", paradoxal - catártico; o informativo e o desabafo reunidos no ato da escrita. Falam muito da literatura, fazem circos e conventos, constroem palácios e favelas, fundam teoremas e 'realitys show', mas ela é assim, ao mesmo tempo causa e efeito, motivo e atitude, problema e solução. Quando se perguntar, seja voce leitor, escritor ou editor, ou nenhum dos casos, mas tão somente interessado em conhecimento, por quê, para quê ou por onde escrever, ou só mesmo o quê é Literatura, jamais se conforme com qualquer resposta.
Postar um comentário