"E assim, neste natal, como em todos os outros já vividos,
meu jesus haverá de vir passear.
E eu estarei esperando..."
Elaine Tavares, em Meu jesus vem passear
O sol está esplendoroso e é só. Ninguém se delicia com o ar morno, o pátio está vazio de gritinhos infantis. O natal vem chegando com brilhos fabricados e não existem pirilampos na cidade.
Sonhos estão em baixa. A incerteza grassa e atravessa fronteiras, o espanto não é somente uma colisão poética de versos bem conseguidos: o cotidiano surpreende, mas não pela beleza.
Pesadelos são emoções espetadas no tempo e capturar vagalumes em uma imensidão negra é se deparar com as impossibilidades do despropósito. Relíquias do campo, ao camponeses. Aos urbanos, a cidade e seu burburinho de desejos impossíveis quando a convocação da natureza é frouxa e escutá-la é puro exercício mental de um romantismo ultrapassado.
Imagens trocam de lugar na mente como se estivessem dentro de um caleidoscópio gigante que gira vertiginosamente. A nostalgia tenta se abater sobre os tempos modernos, a civilização está cansada de inventar. Lástimas e forças que depôem armas são um cenário nada incomum.
A poesia é rara numa humanidade doente. Diversas nuances de cinza existem na realidade recoberta de noite. Pessoas unem-se por fios entrelaçados e confusos que nada têm a ver com ninhos ou malhas protetoras. A paisagem não necessita dos namorados ou das crianças, as tardes de verão acontecem sem a algazarra infantil.
* * *
Muito perto tocam os sinos da igreja e, por um momento, a cristandade se realiza no ar. Frases vêm das entranhas e ganham novos significados por ordem da carne em júbilo próximo. Pedras suavizam a crispação. Os ferimentos da alma iniciam a cicatrização quando os afetos desossados fluem e gestam a restauração. A dor abandona a complacência do espelho.
A escrita do invisível não chega despida à borda da página e, enfim, pode inscrever-se aquilo que existe independente de crença. O que há de condensado nas letras J E S U S exerce uma vivacidade grávida de esperança. A homenagem ao seu nascimento expressa a fé de que no mais difícil anoitecer sempre haverá uma luz.
Sonia Regina
19122010
Imagem: autor ignorado
4 comentários
Ah! Minha amiga! Ainda existem Natais nos corações daqueles que ainda creem num mundo melhor. Seu texto triste, me deixou triste também. Poetar em prosa é muito lindo.
Sonia, amiga
Entre alaridos e sussurros de dores, grita forte a esperança.Esperemos, portanto, a luz do amanhecer.
Noélio
Paola e Noélio, amigos,
Como pessoas sensíveis que são, os escritores captam, e dizem.
O texto de Elaine Tavares me impressionou (será publicado dia 25) e a mensagem de natal da Urda Kluger também. Nesta ela convoca à resistência, trazendo a letra da música " Trovas para o Vento que passa", de Manuel Alegre. Os versos " Mas há sempre uma candeia/
Dentro da própria desgraça" também chamaram-me a atenção.
E pensei nas dores que não se suspendem nesta época. Talvez se acirrem, até, para alguns que não entram no clima natalino ou de réveillon - pelo motivo que for.
Para estes escrevi esse texto.
Acreditar, confiar e amar são palavras "vivíveis" em qualquer momento - a fé sustenta, e permite que seja gerida a esperança.
Beijo imenso para ambos
da Sonia
Minha Amiga Sonia,
Estou aqui hoje para Desejar-Te e a TODOS os Amigos do Letras UM FELIZ NATAL!
Um Excelente Ano de MMXI para Todos Nós.
Muita Saúde, Paz, Amor, Felicidades e Prosperidade!
Que o Letras Continue Sendo Esse Sucesso: Espaço Democrático e Independente da Literatura; Feito e Mantido por Quem Ama a Escrita; Seguido por Aqueles Apreciam e Valorizam a Leitura.
BEIJOS e ABRAÇOS! Jorge X
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