quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

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O Menino da Gaita - Capítulo III

Acordei com um barulho dentro do quarto e sentei-me apressadamente na cama, atordoada de sono, não atinando com o que poderia ser o tal barulho, pois morava sozinha e ninguém deveria estar ali. Então vi o garoto loiro e tímido, sentado na beirada de minha cama olhando-me com seus olhos azuis brilhantes. Pulei rapidamente da cama e quase gritei com o susto. Mas aí caiu a ficha e lembrei de que minha sala estava cheia de garotos, garotas, rapazes e moças um pouco mais velhos, enfim, todas as idades, dormindo.

- Que faz aqui menino?

- Estava olhando você dormir!

- E você porque não dormiu?

- Porque queria olhá-la!

- Hum! Hum! Está bem! Mas com certeza isso não é muito normal! - Falei sem saber o que realmente falar.

Chamei-o para a sala onde estavam os demais, e verifiquei que alguns já haviam ido para suas casas. Outros ainda dormiam e algumas meninas e moças estavam na cozinha tentando fazer um suco.

Quando me viram saudaram-me em uníssono pedindo desculpas pela bagunça na pia. Sorri e disse para continuarem com o trabalho, afinal deveriam estar com fome. Já era tarde de domingo quando acabaram de comer. Eu tinha que organizar a bagunça porque no dia seguinte precisava trabalhar. Após o lanche pedi gentilmente que todos fossem para suas casas. Obedientes retiraram-se.

Mais tarde, já noite, a casa em ordem, as roupas do baile na lavanderia para serem lavadas no dia seguinte, um lanche na mesa, a campainha da porta tocou. Era o garoto tímido.

Pedi que entrasse, porque os olhinhos azuis pareciam estar imensamente tristes. E não sei por que, eu sentia um grande carinho por aquela figurinha humilde e quieta no seu canto, como se o mundo lhe pesasse nas costas. Disse para acompanhar-me até a cozinha e convidei-o para o lanche que estava fazendo.

A esta altura, já sabia que ele morava só com a mãe que era separada do marido. Seus irmãos mais velhos eram casados, sua irmã solteira trabalhava fora da cidade. Eram muito pobres. Ele trabalhava em um dos bancos da cidade ganhando pouco mais de um salário, e com esse dinheiro ajudava a mãe que não recebia nenhuma pensão e não tinha outro rendimento. Viviam pobremente, mas ele tinha grandes sonhos.

Quando nos sentamos para o lanche perguntei:

- Posso saber o motivo desses olhos cheios de lágrimas?

Um pouco relutante contou-me que havia terminado com a namorada, uma moça que trabalhava em uma farmácia e participava do nosso grupo de dança. Conhecia a moça. Não era muito bonita. Então consolei o rapaz:

- Deixa pra lá! Existem muitas outras por aí e você terá oportunidade de conhecê-las. Vai ver. Tudo volta ao normal rapidinho.

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