Há, aqui, um espelho lateral que me permite observar as inúmeras mudanças ocorridas em meu corpo, à medida que, inconscientemente, fui me desvencilhando de meu eu. Vampirismo ou coisa similar? Sinto vontade de reagir, quebrando-o, mas dizem que quebrar espelho é igual a sete anos de azar. Além disso, ele não mente. Paciência, porém me intriga pensar que esse ser amorfo seja eu.
Bebo um gole de água. Minha boca está seca, tal qual a minha alma. Entrego-me passivamente, quem sabe, por medida de segurança? Levanto-me e, através da janela, vejo o corre-corre das crianças no parquinho, a movimentação do dia a dia, mas tudo isso faz parte do mais antigo dos cenários.
Nada tenho a anunciar. Desconecto-me. Fecho as cortinas e, imersa na escuridão de meu quarto, penso em como essa vida é sem sentido.
Imagem: Alexander Kharlamov
5 comentários
Bel, um texto bem construido, reflexivo , lúcido e tão real.
Quisera ter escrito: - retrata-me!
Bjs, anamerij
Magnefico, muito bom, meus parabéns, Bel, não chorei, mas me emocionei nos respingos das lágrimas. Bjs. Osvaldo
Um texto que retrata o cotidiano de muita gente que se encontra numa espécie de beco sem saída emocional. Parabéns!
Lúcia Ferraz
Um retrato da desesperança!
Joao Mattesco
Você avisou no email que era pra não chorar...
realmente, este seu texto é pleno de desencanto. Mas o desencanto, às vezes, pode ser encantador. É o caso. Parabéns e um beijo, Bel.
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