sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

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Os Ciganos - Capítulo XXII

– Se pode ou não pode, não sei! A princípio a denúncia diz que eles estavam presentes na hora do roubo. Se forem a julgamento poderão se defender.

– Quer dizer que eles estão presos? – perguntou Reika.

– Sim! Temo que sim! – respondeu o advogado pensativo – Você é advogado? – perguntou dirigindo-se a Andy.

– Ainda não. Estou estudando direito. Mas venho de uma família onde têm muitos deles.

– Sim? E quem são eles?

Andy citou o nome de um tio que era juiz em uma das varas daquela comarca, e de outro tio que era promotor em outro estado. Omitindo seu pai e sua mãe.

O advogado ficou pensativo novamente e falou mansamente:

– Acho que seus amigos podem obter um habeas corpus até o julgamento. Verei o que posso fazer. Agora vocês dois, após entregarem essas fichas preenchidas, vão para suas casas, onde serão contatados.

– E os meus amigos?

– Por enquanto ficarão aqui. Mas tentarei devolvê-los logo.

Virando-se para o lado Andy deu um sorriso e disse:

– Essa moça aqui pode provar que os ciganos não roubaram.

E o advogado olhou para minha insignificante pessoa e falou:

– Você estava lá?

– Sim! – respondi um pouco assustada, porque pessoas da lei sempre assustam os pobres como eu, que desde criança têm que lutar por causa da discriminação.

– Você é parente deles?

– Não! Só os conheço da praia desde criança.

– E por que estava lá na loja?

– Porque fui ajudar Reika com uns pacotes.

Então Reika veio em meu socorro:

– Ela é nossa amiga, e estava comigo na loja.

– E como você sabe que não foram eles que roubaram?

Perguntou o advogado. Respondi de cabeça baixa, com medo de olhar para ele:

– Porque enquanto estava encostada na porta vendo a confusão armada, vi uns meninos de rua que entraram e pegaram algumas coisas e sumiram em seguida. Eles aproveitaram enquanto todos estavam envolvidos na discussão do entra e não entra.

O advogado pensou um pouco e disse:

– Esperem só um pouco aqui.

Entrou por uma porta e demorou mais ou menos uma hora para voltar. Enquanto ele não vinha, ficamos conversando com Miguel e Sara, e eles ficaram mais animados quando ouviram dizer que eu vira os meninos de rua na loja.

– Miguel! – falei – vamos provar que vocês não roubaram, vai ver.

Nisso o advogado chegou:

– Consegui um habeas corpus, mas eles deverão estar aqui quando chamados para deporem. Com certeza a moça deverá vir também.

– Ela é menor! – falou Andy.

– Levarei isso em consideração.

Enquanto falava ele anotava em sua agenda alguma coisa. Colocou uns papéis nas mãos de Andy e falou:

– Estão dispensados por hoje, mas fiquem esperando serem chamados.

Antes de sairmos, Andy pediu o cartão ao advogado que o passou com um sorriso.

No caminho de volta Andy e Reika conversaram muito sobre pessoas julgarem sob preconceito, sem analisar mais fundo o que seria a verdade. Nós três no assento traseiro do carro, estávamos num silêncio mortal. Eu não conseguia atinar sequer em uma palavra para conversar com meus amigos. Sara olhava pela janela do carro a paisagem que sumia com rapidez. Miguel entre nós duas encostou a cabeça no assento e fechou os olhos, lágrimas escorriam por sua face.

Passei minha mão suavemente sobre o dorso da mão dele, para mostrar que seu sofrimento era igual ao meu, em tantas outras vezes que também fui humilhada só por ser pobre.



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