sábado, 8 de janeiro de 2011

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Pão Amanhecido - Thabata Lima Arruda


Tome um banho, coloque a toalha molhada no assento na cadeira, vá à cozinha e sirva um pouco de esperança fria que está no bule. Vai, por favor.
Guarde as meias dentro dos sapatos, penteie seus cabelos molhados na pia do meu banheiro, que não me importarei com os fios que forem ficar lá. Simplesmente vá, enquanto lavo sua camiseta lá no tanque.
Cuida logo, que para o almoço quero preparar um resto de amor para nós. Apenas um restinho para você ser, ou apenas fingir, que ainda é minha e que faz parte da minha vida sem graça. Porque ela é sem graça, como você mesma já afirmou tantas e tantas vezes para aquele nosso vizinho travesti que ainda me olha de canto de olho quando passo por ele. Como se a culpa por você ter deixado nosso apartamento, nosso lar, fosse exclusivamente minha, e não aquela sua tal história de ser livre. Como se estivesse amarrada a mim.
Vai querida, coloque um disco qualquer para tocar, para quebrar esse silêncio horrendo que estamos nos proporcionando. Para quebrar essas lacunas que nos distancia.
Por favor, ainda não vista a camiseta que lavei, deixe tocar a última música. Tome mais uma taça de perdão. Só mais um gole, e não insisto mais. Não persisto mais nessa, e em nenhuma outra, história. Só mais um trago de adeus, pode jogar as cinzas sob o carpete se quiser, sei que sempre o achou feio.
Vai, pegue as suas meias do sapato e as vista. Não se preocupe com cabelo na pia, eu limpo mais tarde.
Não se preocupe comigo. Sempre fui uma mulher fraca. Vai querida. Se vá. Pode deixar que esquento o resto de amor, e como sozinha.

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