Já estávamos ficando moças. Deitada na grama olhando pelo barranco do riacho abaixo, Aracê disse:
Sabe Laura, estava conversando com vovó ontem, e ela disse algumas coisas que não entendi muito bem.
- Que foi que vovó falou?
- Quando perguntei a ela o que era pecado, ela respondeu:
- Cada pessoa tem dentro de si o que considera verdade, erro ou pecado, seja como você queira pensar. O que é certo para mim pode não ser certo para você. Por exemplo, no Japão se escreve da direita para a esquerda o que para nós é errado, porque escrevemos da esquerda para a direita. Qual de nós está errado? Na Índia não se come carne bovina, porque a vaca para eles é sagrada. Em nosso país na maioria dos estados o prato principal é a carne bovina. Quem está errado? Acho que todos dentro do conceito de sua cultura estão certos, não acha? Então como vou julgar o que é ou não é pecado? Cada pessoa deve sentir dentro de seu coração o que é certo ou errado para si mesmo. Cada um deve reger sua própria vida dentro de seus erros e acertos, sem se preocupar em julgar os outros, nem no que os outros possam dizer.
- Nossa! A vovó está certa, nunca havia pensado nisso. Como vou saber agora se estou pecando? Acho que vendo se o que faço me deixa mal comigo mesma ou perante os outros. Ora essa! É tão simples, não é mesmo Aracê?
- Pois é! Agora que você falou, também acho.
- Meninas! O lanche está pronto! - era Dona Maria.
Enquanto subíamos para o lanche, pensei que Dona Maria, tão velha já, mas ainda era forte fazendo lanche para todo mundo. E Seu Pedro então? Mais velho ainda e lá no jardim, firme cuidando das suas roseiras. Acho que o trabalho além de dignificar a pessoa, deixa-a mais forte também.
- Sabe de uma coisa Aracê? Vou trabalhar logo, logo! Ora se vou! Quero ser forte para enfrentar esse mundo de meu Deus como Seu Pedro e Dona Maria.
- Sei lá no que você está pensando, mas acho muito bom trabalhar. Veja seu pai, desde muito cedinho está lá atrás dos bois dele. Aliás, vou trabalhar agora mesmo, ajudar Dona Maria com o lanche.
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