domingo, 15 de maio de 2011

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Os Caminhos de Laura - Capítulo VII

A manhã passou depressa! Almocei com a família, mas com os olhos no relógio da parede. Até que enfim todos levantaram e eu pude escapulir para o pomar. Sentada embaixo de uma mexeriqueira, esperei Aracê chegar. Ela veio pelo caminho do riacho e quando me viu correu para onde eu estava.
- Olá! Vamos brincar de quê? - disse ela
- Sei lá! Vamos ver quem sobe antes naquela guabirobeira?
- Vamos! - falou e saiu correndo em direção à árvore.
Daquele dia em diante, Aracê e eu ficamos amigas inseparáveis.
Em um dia de chuva, Aracê e eu estávamos sentadas rodeadas de bonecas quando vovó entrou em meu quarto.
- Vovó! Que bom que você veio aqui! Aracê e eu queremos ouvir uma historinha. Conta! Vai!
- Tudo bem minha querida! Lembra aquele dia lá na floresta perto aqui da fazenda? Vimos um pássaro construindo seu ninho, não foi? Pois bem, a historinha tem a ver com esse pássaro e muitos outros bichinhos - e com as mãos cruzadas no colo e os olhos perdidos na chuva que escorria lá fora começou:

"PIRIN"
-        "Era uma vez, um anãozinho que morava em uma linda floresta, cheia de flores e lindos pássaros. O solo era coberto de uma relva verde e macia. Sua casinha ficava embaixo de uma frondosa árvore, onde os raios do sol pincelavam de ouro o pequeno telhado vermelho. De sua pequena janelinha, o anãozinho, que se chamava Pirin, olhava o seu jardim onde borboletas coloridas esvoaçavam alegres pelos canteiros perfumados.
De repente, começou a ouvir um ruído muito estranho!  Era um barulho que Pirin nunca ouvira antes. Parecia o som de um trovão, mas não, não poderia ser um trovão, pois o céu estava muito azul, desde manhãzinha, e era certeza que chuva não viria hoje. Então, que barulho era esse?
Curioso Pirin saiu de sua casinha para verificar o que estava acontecendo. Andou um pouco pela floresta, e uai! Que coisa mais esquisita! A sua frente estava um monstro enorme, roncando como um dragão faminto, derrubando árvores e cipós como se fossem plumas. Credo! O ronco desse monstro era mesmo ensurdecedor, e sua atitude aterradora.
Pirin parou, pensou, e como era muito corajoso, correu para frente daquela coisa enorme e feia e gritou:
- Pare! Pare! Sou um morador dessa floresta e não permito que destrua essas árvores, que são o lar de tantos bichinhos meus amigos.
Mas o monstro não lhe deu ouvidos e continuou a roncar e derrubar árvores. Pirin, corajoso, não saiu da frente.  Então, como por mágica o monstro parou, e dele saiu um gigante, - parecido comigo, pensou Pirin - mas enorme, muito grande mesmo!
E o gigante falou:
- Não posso parar porque estou cumprindo ordens, e devo continuar porque por aqui passará o progresso.
- Progresso? O que é isso PROGRESSO? Nunca ouvi nada parecido e nem ouvi falar em Progresso. Pode explicar?
- Progresso, Senhor, são enormes edifícios cheios de gente; casas e ruas, carros e fumaça por todos os lados. Por isso Senhor, devo continuar com meu trabalho.
Pirin desesperado saiu correndo para o interior da floresta, e aos gritos começou a chamar seus amigos moradores daquele lugar, e explicou o que estava acontecendo. A cada instante chegavam animaizinhos de todos os cantos e ficavam ouvindo com atenção a explicação de Pirin sobre o monstro. Então se reuniram e seguiram para o local onde estava acontecendo o desastre. Iam na maior algazarra, o leão urrava, o tigre rugia, o macaco guinchava, os pássaros chilreavam, até que chegaram ao local. Colocaram-se em frente ao monstro, e foi tanta a barulheira que o ronco do motor do monstro foi abafado, e o homem gigante foi obrigado a ouvir o que eles tinham a dizer.
Pirin falou:
- Senhor Monstro! Nós moradores da floresta não deixaremos mais esse tal Progresso tomar conta de nossas moradas, enchendo de grandes prédios, casas, gente e carros enchendo tudo de fumaça tirando nosso ar. Nós todos morreremos se isto acontecer. Pense nisto!
Então, o homem ficou calado, pensou e pensou! E como era um ser humano bondoso, subiu na máquina, virou a direção e foi embora. A população da floresta toda explodiu em vivas e hurras enquanto ele se afastava.
O tempo foi passando, Pirin continuava em sua linda casinha na floresta debaixo da mesma árvore frondosa. Pelos caminhos abertos pela máquina infernal do homem, já começavam a despontar alguns brotinhos verdes, pois a sábia natureza começava a se recompor. Certo dia, porém, Pirin ouviu novamente um ronco estranho. Parecia um trovão, mas não era. O que seria esse barulho vindo do alto? Correu para fora da casinha, e erguendo os olhos para o céu viu um enorme pássaro, mas seria mesmo um pássaro? Era brilhante como o sol, rugia como um leão e voava como uma águia.
Daquele estranho pássaro, começou a cair uma chuva de flores e sementes, no local onde antes aquela outra máquina havia destruído tudo.
E o tempo passou, aquelas sementes jogadas foram nascendo com as chuvas que caíam, e a floresta naquele local, voltou a ser exuberante como antes. E os moradores da floresta, continuaram felizes para sempre”.

- Puxa vovó! Que lindo! E Pirin e os demais moradores, nunca mais precisaram preocupar-se com monstros destruidores?
- Olha minha querida! Todos os dias, muitos outros Pirins estão às voltas com monstros destruidores. A ganância do homem está destruindo tudo de bom que existe nas matas. É uma pena!
- Quando eu crescer vovó. Vou fazer tudo para preservar a natureza. Acho que o mundo depende da gente, não é mesmo?
- Claro minha querida! Vou torcer para que ainda haja o que salvar quando você crescer.
E vovó levantou da poltrona e saiu do quarto, deixando Aracê e eu pensando como fazer para salvar a natureza.

1 Comentário

Anônimo

É de uma delicadeza incrível este conto.Abraços