domingo, 26 de junho de 2011

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DENTRO DE UMA NOITE QUALQUER

Um homem me espancava em plena rua, à noite. Um pequeno círculo de pessoas assistia em volta. Ninguém me conhecia. Eu não conhecia ninguém.
O meu agressor era um homem forte, violento, bem diferente de mim. Não tinha motivo algum para me bater mas, percebi, fazia-o para provar alguma coisa. Sua força. Sua superioridade, talvez. Sua doença.
O meu rosto sangrava a cada golpe. Meus olhos, porém, ainda conseguiam ver que a pequena platéia aumentava. Às vezes um sorriso ou uma frase perdida chegava aos meus ouvidos. Alguns meninos imitavam a luta com seus amiguinhos.
Algum tempo depois, uma sirene invadiu a rua onde eu era espancado.
Fiquei feliz por alguém ter chamado a polícia. Alguém da platéia? Certamente não.
A viatura parou bem• atrás de mim e o meu agressor se afastou um pouco. As pessoas se dispersaram rapidamente, exceto dois meninos, que ficaram fascinados com o brilho das armas dos policiais. Um deles, vindo em minha direção, perguntou:
— Como é que você aguenta isso?
Minha boca estava cheia de sangue. Tive de cuspir antes de responder.
— É preciso — falei.
O policial então chamou o seu companheiro e os dois conversaram em voz baixa com o meu agressor. Riram. Os meninos se foram, decepcionados com a ausência de tiros.
O primeiro policial veio novamente em minha direção.
 — Será que podemos fazer alguma coisa?
Cuspi outra vez para responder.
— Acho que não.
Os policiais voltaram para a viatura; eu e meu agressor trocamos um breve olhar. Logo depois avistei um homem ao longe; atrás dele, olhares ansiosos: a platéia retornava.

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