quarta-feira, 22 de junho de 2011

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EU E OS SAPATOS




“Cruzam o limiar trazendo / Poeiras de azul e de horizonte / Nos pés
enleados de caminhos” (Joaquim Cardozo)

Adoro sapatos de todos os tipos e cores.
Sapatos certos garantem um andar com segurança para colocar “o pé na estrada”, como canta Adriana Calcanhoto, desafiando o poeta e despertando transformações: “... em meus passos, sapatos / poeiras / portas / portos / poetas / profetas / negócios...”
Por mais que me declare apaixonada por sapatos, sempre tive uma curiosidade: de onde surgiu a numeração dos sapatos?
Descobri com Xico Gonçalves que a primeira descrição oficial de tamanhos para calçados foi publicada em 1688, na Inglaterra, onde mencionado o acordo para utilizar a medida, de um quarto de polegada, como padrão.
Um século depois, foi instituído um terço de polegada - equivalente a um grão de cevada -, que foi a medida usada pelo rei Eduardo I, no século XIV, como padrão para os calçados, tornando-se uma unidade métrica chamada “Ponto”.
Mais tarde, Edwin B. Simpson, na época da Revolução Industrial, incluiu no sistema de numeração, para as fábricas de calçados, as medidas de meio ponto; utilizados até hoje em sapatos do hemisfério norte, e por poucos fabricantes brasileiros.
O sistema só foi utilizado a partir de 1808, pelos fabricantes, e sobrevive com pequenas alterações até hoje.

“Imóveis, como a espera / da Dona para os calçar: / Quantos espinhos tivera /
neste mundo, que pisar...” (Ernani Rosas)

Os sapatos despertam paixão em homens e mulheres. Fizeram a fama de muitas estrelas de cinema, como Marilyn Monroe, que mandava diminuir a altura de um dos saltos dos sapatos, para poder rebolar os quadris mais sensualmente ao andar; o que pode ser visto no filme “Torrentes de Paixão”.
Sapatos são uma arte em tempos e em termos de produtividade, com a vantagem de poder escolher a gosto e descobrir o segredo para compor uma identidade visual marcante. Sapatos são poderosos! Os passos são sapatos que transcendem a realização, como no poema de Nei Duclós: “Passos... a linguagem que / aproxima o que parece / disperso.” Surpresas e desafios fazem parte do caminho, o que pode facilitar a jornada é o “acertar o passo”.
A mulher tem o dom de achar o caminho que leva à felicidade, seus passos têm a força da vitória, sabor da conquista – talvez sejam os sapatos e eu que, juntos, damos sinais de um acontecimento poderoso.

“Esquecidos num canto / dormem os velhos sapatos, / gastos de uso / e tanta
equivalência. // Ali estão todos eles, / os meus sapatos / que já não deixam rostos, /
ali abandonados / com seu sorriso amargo, / e neles existo.” (Itálico Marcon)

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