quarta-feira, 22 de junho de 2011

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Os Caminhos de Laura - Capítulo XVII

Aracê estava namorando. Era um garoto da terceira série do 2º grau, mesma série que nós, mas de outra turma. O nome dele era Roberto, filho de um amigo de meu pai. Mas isso estava dando pano para manga. O garoto tentou contar em casa sobre o namoro, mas não houve jeito. Seu pai nem quis ouvir falar no assunto.
- De jeito nenhum! Essa moça, foi criada pelo meu amigo, mas não deixou de ser o que é: filha de índia e peão! E caso encerrado!
Foi essa a reação do pai do garoto. E aí, que fazer? Continuaram namorando lógico! Já ouviram falar de adolescente que ouve o conselho dos pais? Pois é! Foi um buraco n'água! Só que agora namoravam escondido. Encontravam-se todos os dias após as aulas atrás dos pilares ou nos fundos do prédio, até o momento em que o carro nos buscava. Eu ficava em frente ao colégio para anunciar a chegada do motorista de meu pai, que todos os dias nos trazia e depois nos levava de volta para a fazenda.

Ninguém sabia do namoro. Só eu.
O tempo passou. Estávamos no final de mais um ano letivo. Encerramento das aulas, alguns passaram, outros não. Enfim, era assim mesmo. No último dia de aula no colégio, com as notas nas mãos, aptas a fazer o vestibular, Aracê veio e disse:
- Laura! Sei que devo tudo que sou a seus pais. Eles me deram casa, carinho, estudos, e graças a vocês estou para entrar na faculdade. Mas, Roberto e eu decidimos ir para o Rio de Janeiro. Lá ele tem emprego garantido com uns amigos e quer que vá com ele. Aí decidi ir! Afinal aqui sou apenas a filha do peão, lá longe talvez esqueçam disso. E o mais importante é que Roberto e eu nos amamos, então vamos seguir nosso caminho. Faço 18 anos esta semana. Já sou adulta. Vou escrever a você todos os dias, e sempre que puder virei para vê-la.
- Aracê! Você não pode fazer isso conosco! Comigo! Vou ficar sozinha! Que será de mim?
- Não chore! Você tem sua mãe, seu irmão e seu pai que fazem tudo por você.
- Por nós! Eles fazem tudo por nós duas! - cortei com aspereza.
- Não se zangue. Nada vai me fazer mudar de idéia. Já peguei algumas coisas, algumas roupas, poucas, só para enfrentar os primeiros dias. Vou logo encontrar emprego, e juntos, Roberto e eu, vamos progredir, você verá. O pai dele vai entender que tem um filho inteligente e com cabeça no lugar. O motivo dele se apaixonar por mim, não o desmerece.

- É claro que não! Está bem. Você sabe o que faz. Quando vocês vão? – e enquanto eu secava as lágrimas Aracê falou:
- Agora mesmo! Vê o carro ali parado?  Roberto está nele esperando eu chegar.
- Tudo bem. Só quero ver o que papai dirá quando lhe contar. Vai achar você uma ingrata.
Aracê sorriu. Sabia que não seria assim. Conhecia muito bem o Senhor meu pai, ele a perdoaria, ajudaria se necessário, e estaria sempre a favor dela. Ele considerava Aracê como sua filha. Nós duas não tínhamos diferença diante dele. Éramos iguais. E quando soubesse da sua decisão, e o motivo dela, com certeza apoiaria a sua atitude. Afinal meu pai foi sempre a favor da igualdade entre os homens, embora isso na prática fosse bem mais difícil do que nas utopias da vida.
Aliás! Igualdade era uma coisa que todos conseguiriam, se estivessem unidos em Deus, e considerando-se todos como irmãos. Mas, alguns seres humanos se acham tão superiores! Dá uma pena!

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