domingo, 5 de junho de 2011

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Os Caminhos de Laura - Capítulo XII

Nessas festas dos boiadeiros, Aracê e eu ficávamos meio escondidas em um canto, apenas vendo e ouvindo, pois papai não nos deixava participar. ‘Era festa de homens’, dizia, ‘menina não pode entrar’. Mas lá de nosso canto assistíamos tudo. Isso desde bem pequenas. Ficávamos ali até altas horas, sem ninguém dar conta disso. Também, não víamos nada demais. Só peões brincando como crianças. Era divertido.

Naquela noite, já era bem tarde quando vimos o homem de preto entrar pelo portão da frente, e dirigir-se ao galpão onde os peões se divertiam. O chapéu baixado na testa, a cara amarrada, tudo dizia que o homem procurava encrenca. Aracê e eu ficamos quietas em nosso canto como se não quiséssemos que o homem nos visse. Ele passou perto de onde estávamos. Nossa! Como era alto! Os canos compridos das botas pareciam não ter fim. Ele passou e dirigiu-se ao local onde estavam servindo bebida apoderando-se de uma garrafa de vinho que meu pai fabricava, e deixando o líquido escorrer pela garganta como se estivesse morrendo de sede.

- Que coisa! - disse Aracê - parece o coisa ruim!

- É! Parece mesmo! Veja como olha para os peões. Será que ele tem raiva?

- Acho que tem inveja. Aposto que gostaria de estar no lugar deles! Ora se não!

Aracê parecia estar com medo. Acho que eu também estava.

Foi aí que começou tudo!

O homem aproximou-se de um dos peões e lhe puxou pela camisa, falando alto e dizendo palavrões. Outros peões entraram na briga, que não durou muito tempo, pois o homem de preto estava só, e a multidão de peões da castrada era muito unida. Bobagem do homem! Que lhe deu de puxar briga assim, sem mais nem menos, justo no meio de tanto peão que nem conhecia? Foi logo posto para fora aos empurrões.

Pensei: ‘decerto tudo vai ficar bem agora’.

Mas qual! Não demorou nem quinze minutos e o homem entrou pelo portão com uma arma de fogo, e foi atirando a torto e a direito, e as balas foram encontrando destinos, aqui uma perna, ali um braço, e uma mais certeira, o coração de Seu Pedro! 

Assustadas com o tiroteio, Aracê e eu saímos correndo para dentro da casa grande, onde as mulheres estavam conversando sobre costuras e chás.

- Mamãe! Mamãe! - gritava - Estão atirando nos peões!

- Meu Deus!

E todas as mulheres saíram correndo para o galpão. Nós fomos atrás. Meu irmão que estava em seu quarto desceu as escadas aos saltos e também foi para o galpão.

O homem já havia fugido, e no galpão todos os peões assustados procuravam socorrer os feridos. Meu pai estava com Seu Pedro nos braços. Corri para eles, mas Seu Pedro não respirava mais. Foi uma desolação só! Todos ali amavam demais o jardineiro. O Jardineiro que fora peão.

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