domingo, 3 de julho de 2011

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Os Caminhos de Laura - Capítulo XXI


Nos dias que se seguiram saímos sempre que nossas aulas nos permitiam. Ele me levava a lugares onde seu violão e sua música eram bem vindos, e por ali ficávamos horas a fio, cantando e sorrindo. Depois de um mês de amizade, ele me pediu em namoro. Namoramos mais um mês e depois disso ficamos noivos.
Meus pais não gostaram muito da idéia, mas acabaram aceitando, porque ele prometeu que nada atrapalharia meus estudos.
Após três meses de relacionamento, nos casamos. O casamento, diga-se de passagem, foi muito a contragosto de meus pais. Mas mesmo assim a cerimônia foi na fazenda, com centenas de convidados espalhados pelos jardins e pomar, todos sendo recepcionados no maior estilo campeiro que meu pai gostava, mas com muito luxo, e aí vinha o dedinho de minha mãe que era excelente anfitriã e de muito bom gosto.
Se eu o amava? Não tinha muita certeza. Casei porque me encantei com sua música, seu jeito alegre e doce de ser, e na verdade foi meu primeiro namorado.
Faziam apenas quinze dias de casados e meu marido não chegou para o jantar nem para dormir em casa. Foi minha primeira noite em claro a espera dele. No dia seguinte chegam ele e meu pai. Assustei-me, pois nem sabia que meu pai estava na capital. Meu marido entrou sem me olhar e foi para o quarto, e meu pai levou-me para a sala de visitas onde sentou e puxou-me para seu lado.
- Filha! Aconteceu algo muito desagradável. Seu marido ontem a noite esteve em um prostíbulo e atirou em uma mulher. Graças a Deus não a feriu. Mas foi preso no ato, e precisei de toda minha influência para tirá-lo da cadeia e trazê-lo. Fazem quinze dias de casados. Se você quiser, podemos anular o casamento e você volta para nossa casa, continua estudando e tudo fica como era antes. Que me diz?
Eu devia estar olhando para meu pai com uma fisionomia muito estranha, de impaciência, dor, humilhação, despeito e ódio. Porque ele tomou minhas mãos e falou:
- Laura, minha filha. Estou aqui para protegê-la. Não receie. E a decisão é só sua.
- Eu sei papai. O senhor me ensinou que por nossas atitudes, só nós mesmos somos responsáveis. E como fui devidamente lembrada do erro desse casamento antes de cometê-lo, agora assumo plenamente tudo isso e fico aqui que é meu lugar. Agradeço muito seu apoio, preciso dele, quero continuar tendo sua presença. Mas fico aqui.
Meu pai deu um longo suspiro e disse:
- Está bem! Mas a qualquer momento que queira é só voltar para sua casa. Estamos lá, sua mãe e eu, para o que você precisar.
- Agradeço muito papai. Sei que posso contar com vocês.
Engravidei um ano e dois meses após o casamento. Tive uma filha linda, delicada, era minha companhia nas noites de solidão a que meu marido me confinava.
Fiquei casada com Marcelo durante três anos. Nesse tempo só algumas poucas vezes ele ficou comigo durante a noite. Passava a vida nos bares e boates cantando e bebendo com amigos e amigas. Quando chegava a casa já de manhã e eu o interpelava, a resposta era invariável:
- Prometo que nunca mais faço isso! Sabe que a amo demais. Você é a pessoa mais importante de minha vida.
Mas, dois dias depois lá estava ele nas noites cantando e bebendo novamente. Já nem trabalhava mais direito.
Cansei. E uma noite exausta de tanta espera, peguei meus pertences, minha filha e saí de casa. Voltei para o apartamento de solteira e lá me instalei. Durante vários dias Marcelo tentou a reconciliação. Batia em minha porta, telefonava, chegou até a dormir na soleira por duas noites seguidas. Mas eu fingia não estar em casa. Uma hora ele cansa e vai embora, pensava com meus botões. E foi mesmo.
Conclui a faculdade, fiz doutorado e voltei para o interior. Arrumei um escritório para trabalhar na cidadezinha próxima à fazenda de meu pai e dediquei-me fundo ao meu trabalho e à educação de minha filha. Não demorou muito fiz um grande sucesso na profissão, a sociedade me considerava, meus pais me apoiavam muito, e eu estava feliz assim.

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