quarta-feira, 20 de julho de 2011

0

Os Caminhos de Laura - Capítulo XXVI


Capítulo XXVI



Nesses hotéis de luxo onde se hospedam as grandes figuras de destaque do mundo, a noite foi feita para brilhar. O jantar sempre é muito concorrido, e as pessoas capricham no visual para ostentarem suas posses ou celebridade da maneira mais aparatosa possível. Então minha filha e eu colocamos roupas adequadas para a ocasião. Mas nada de jóias. Apenas algumas bijuterias que combinassem com os trajes e nada mais. Afinal uma pulseira perdida já era suficiente.

Quando chegamos ao enorme salão onde o jantar seria servido, já estavam quase todas as figuras de maior expressão, entre elas uma atriz americana que chamava a atenção de todos pela beleza e simpatia. Sentamo-nos à mesa a nós reservada que ficava no canto norte próximo a uma janela, pela qual se via o movimento da rua e parte da área de lazer onde ficava a piscina. Enquanto minha filha se deliciava vendo os hóspedes bem vestidos desfilarem pelo salão, eu olhava para a rua e para as cadeiras da piscina há essa hora vazias.

- Mamãe! Que está acontecendo? Veja aquelas pessoas tão agitadas próximas ao bar.

Olhei na direção indicada e realmente havia um pequeno tumulto. Vozes um pouco alteradas, e um vai-e-vem de funcionários inusitado naquele momento e naquele local. Prestei atenção, mas não consegui atinar no que seria. Nesse instante o mesmo cavalheiro com quem esbarrei pela manhã na piscina, passou calmamente por nós e saiu pela porta lateral, distraído pelo movimento das pessoas agitadas, mas sem prestar muita atenção nelas. Segui seus passos com o olhar até vê-lo sumir pela escada que levava ao andar superior.

Engraçado! Aquela fisionomia fidalga e simpática do cavalheiro me chamou a atenção, não pelo porte altivo, mas pelo olhar estranho e sagaz que deixava transparecer ao fixar nas pessoas. Mesmo não estando interessado pelo que ocorria a sua volta.

O tumulto cessou e foi anunciado o jantar. Imediatamente os carrinhos com as diversas iguarias passaram a circular e os garçons serviam as mesas com presteza, delicadeza, atenção e respeito pelos hóspedes. A cada minuto passava um carrinho com um garçom servindo o que se pedisse. Minha filha provou de tudo. Queria voltar ao Brasil e contar para as amigas todas as novidades que vira e provara. Coisas de criança!

Após o jantar a sobremesa foi servida em um salão ao lado, todo iluminado com lâmpadas japonesas, mesas decoradas com flores naturais e uma grande fonte de águas que jorravam formando jatos coloridos, em uma dança suave acompanhando a música de Beethoven. As pessoas agrupavam-se para jogar conversa fora. Aproximamo-nos a um dos grupos e ficamos ouvindo o assunto que discorriam. Falavam sobre o tumulto de há pouco. Uma senhora perdera em frente ao bar um belo colar de diamantes, e ninguém vira onde fora parar. Os amigos e outras pessoas ajudaram a procurar, mas ninguém o encontrou em lugar algum. Ela foi levada para o quarto inconsolável, pois o colar era de valor inestimável para ela. Ganhara do marido antes dele falecer.

Estranho aquilo! Já era a terceira pessoa que eu sabia ter perdido alguma coisa ali naquele hotel. Ao fundo, próximo à saída para a sala de jogos estava o cavalheiro que vira antes, encostado a uma balaustrada olhava as pessoas circularem.

Com a sobremesa em uma das mãos, aproximei-me dele e cumprimentei:

- Boa noite!

- Boa noite senhorita!

- Agradável essa música, e linda a dança das águas, não acha?

- Sim! Muito!

Sem mais delongas ele tomou minha mão beijando-a, e disse:

- Desculpa! Mas preciso ir.

E saiu por uma das portas que estavam atrás de nós. Minha filha e eu sorrimos e ficamos olhando o cavalheiro que sumia pelo corredor que aparecia através das grandes portas de vidro.

- Ele não gostou de nós. – disse ela.

- Demonstrou isso claramente, não? – respondi.

E rindo nos dirigimos para a mesa de sobremesas onde minha filha serviu-se de mais um imenso prato. E eu também.


Ao terminarmos a sobremesa ficamos andando sem destino, passando pelos grupos que conversavam. Entramos pelo corredor que dava ao salão de jogos. Nas paredes réplicas de pintores famosos como Van Gogh, Rembrandt, Da Vinci, e um Retirante de Portinari. Ficamos felizes de ver o nosso Portinari lembrado ali naquela cidade tão longe. As pessoas que passavam por nós nem percebiam nossa presença, quer fossem funcionários do hotel ou hóspedes. Éramos almas invisíveis na galante Milão. Novamente o elegante cavalheiro passou por nós em direção ao salão de jogos.

O homem aparecia e desaparecia com uma facilidade incrível.

Seja o primeiro a comentar: