domingo, 21 de agosto de 2011

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Cotidiano Ornamental - Nos entremeios do surreal real





Nos entremeios do surreal real


Não raro, deparo-me com essas singularidades que fogem da objetividade da ciência. Quando menos se espera os sentidos são fisgados como peixes deslumbrados pelos atrativos que, pelo jeito, só podem ser divinos. E eis que nos atraem inesperados: olores momentâneos, cores momentâneas, imagens suspensas... nos fazendo divagar. E surge a interrogação: que importa a ciência nessa hora, se o subjetivo é mais exato agora?!

Numa outra ocasião, tratara sobre a surrealidade do pôr-do-sol e suas cores manifestadas nas nuvens. E por aí, mais demonstrações.

Eis que uma bela moça em passeio pela passarela cotidiana, em saracoteios e passos elegantes em toda sua formosura de flor, vai deixando ao longo do percurso a evidência vívida de uma fragrante flor, o inefável e presente olor. O perfume, essa entidade surreal, de alta divagação intimista, me tira de vista o norte e fico ainda ali disperso com o perfume... Há mais qualquer coisa de óleos, essências e moléculas disseminando cheiros na composição dessa iguaria olfativa. Algo longe da ciência, algo de celeste, algo de alma. Já dizia a poeta: “A alma das flores, suave e tácita, perfuma/ A solitude nebulosa e irreal do ambiente...” E nesse caso, as humanas flores e seus olores.

Eis que, no peso do hábito do dia a dia, quando tudo é mesmice e os olhos já estão cansados e pouco admirados, surge o roxo do ypê na nebulosidade concreta do ambiente, dando um pouco mais de esperança aos olhos opacos. Há mais qualquer coisa de células e pigmentos na composição daquela iguaria visual. Algo longe da ciência, algo de celeste, algo de alma. Algo que não há nem palavras para descrever o que seja. E talvez nem seja preciso ir fundo na descrição. É algo mesmo só dos sentidos; é manifestação divina dando-nos um pouco mais de alento, de sopro, de seguimento.

E no mais é isso: é qualquer coisa além de material, de concreto. Algo mais do que átomos, moléculas e células. Algo mais que os ligeiros olhos não vêem.


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Pablo Flora é poeta, mas quando as palavras não se aquietam no poema, inventa prosa.

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