No Clube, durante dois meses as aulas foram normais. Novos alunos entrando e outros saindo das turmas. Durante esse tempo, as caronas para o rapaz tímido tornaram-se regulares, tanto para ir como voltar das aulas. Alguma das vezes precisava também levar amigos dele, que por algum motivo estavam sem carro. Acabei ficando amiga de todos, mesmo porque eram participantes de atividades do clube, embora nem todos fossem meus alunos. Conversávamos, ríamos, íamos a bailes na cidade e fora dela, formamos um grande grupo que sabia ser feliz. Sem perceber, fui ficando íntima de Luan, era meu par constante nas festas, nos bailes, em todo lugar. Raramente eu entrava em sua casa porque sua mãe demonstrava ter certa prevenção contra mim. Ela era uma pessoa enfarruscada! Mas eu nem ligava. Afinal meus alunos eram muito importantes para que levasse em consideração uma cara feia.
Em certa ocasião fomos a uma festa numa cidade próxima. O ônibus estava lotado. Ficamos o durante o dia na festa e a noite fomos todos ao baile de encerramento. Luan ficou a meu lado o tempo todo e dançamos até o sol nascer. Quando o ônibus parou em frente minha casa já passava das oito horas da manhã. Convidei a turma toda para fazer um lanche. Encomendamos sanduíches e refrigerante, ficamos até quase o meio dia, todos sem dormir desde o dia anterior. Após o lanche o pessoal foi se deitando, uns pelos tapetes, outros nos sofás, ainda com os paramentos do baile, e dormiam imediatamente. Pensei - Nada posso fazer - e deixei-os ali esparramados pela grande sala do meu apartamento, fui para meu quarto tomar uma bela ducha e também dormir um pouco.
Acordei com um barulho dentro do quarto e sentei-me apressadamente na cama, atordoada de sono, não atinando com o que poderia ser o tal barulho, pois morava sozinha e ninguém deveria estar ali. Então vi Luan sentado na beirada de minha cama olhando-me com seus olhos azuis brilhantes. Pulei rapidamente da cama e quase gritei com o susto. Mas aí caiu a ficha e lembrei de que minha sala estava cheia de meninos, meninas, rapazes e moças, uns mais velhos, outros mais jovens, enfim, todas as idades, dormindo.
- Que faz aqui Luan?
- Estava olhando você dormir!
- E você porque não dormiu?
- Porque queria olhá-la!
- Hum! Hum! Está bem. Mas com certeza isso não é muito normal. - Falei sem ter nada melhor para contestar.
Chamei-o para a sala onde estavam os demais, e verifiquei que alguns já haviam ido para suas casas. Outros ainda dormiam e algumas meninas e moças estavam na cozinha tentando fazer um suco.
Após o lanche, e já era tarde de domingo quando acabaram de comer, pedi educadamente e com carinho, para que se retirassem. Eu precisava organizar a bagunça porque no dia seguinte teria que trabalhar. Obedientes se foram.
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