domingo, 28 de agosto de 2011

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Cotidiano Ornamental - Hoje, um conto









Secundarista


O trabalho não era de todo mau gosto, ainda se podia olhar o céu e barganhar uma virtude qualquer. Ah, a comida era o melhor de tudo depois do exausto suor no rosto. Um porre ter de lavar banheiro, mas às três horas da tarde era a pausa, os empregados sentavam para o almoço: a magnífica comida do restaurante Maître Cuca. Na hora do almoço é que se podia ver o céu; havia uma enorme vidraça e dela é que a esperança se apresentava mais translúcida aos olhos de Lena. O céu com todo aquele azul... Esperança? A comida: saborosa; a hora do almoço era a situação mais próxima de um dia melhor sem a vida menor, sem a realidade-bruta.

Em casa o céu continuava. É certo que o quintal era pequeno e era envolto em prédios vizinhos, mas o azul estava lá, conseguia vê-lo. As plantas cresciam com gosto, cheias com seus adornos. E o céu estava com seus azuis entre as paredes. Visitar o quintal era a situação mais próxima de um dia melhor sem a vida menor, sem a realidade-bruta. O trabalho não era de todo mau gosto, e tinha a magnífica comida e o azul celeste.

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Pablo Flora é poeta, mas quando as palavras não se aquietam no poema, inventa prosa.

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