quarta-feira, 21 de setembro de 2011

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“NAVEGAR É PRECISO”

Ventos a favor quer dizer navegar, senão com mais romantismo, ao menos com eficiência.
Novos ventos se encontram na poesia de Leminski, a quem se atribui “função libertadora”. A poesia leminskiana se manifesta através da lucidez poética, abrindo-se para os improvisos da imaginação.

“Pensa dentro de mim / o idioma que não fiz /
aquela língua sem fim / feita de ais e aquis.”

Pedro Du Bois faz referência à Leminski, que sempre soube dar vida às palavras e revelar habilidade filosófica no criar poético:

“Curitiba // Leminski / tinha razão / muito mar / passou por aqui. // Leminski / tinha razão / na eternidade / de juventude. // Leminski / não teve razão / ao ir embora / antes que o mar voltasse // antes findasse /sua eterna juventude.”

Como os ventos, os caminhos se cruzam para buscar uma produção literária sem barreiras na universalização das artes.
Vento, vela, vida, me levam ao contista Marcelo Mirisola, do qual Nelson Oliveira avisa aos navegantes: o estilo do autor está calcado no anacoluto. E de acordo com Napoleão Mendes de Oliveira, anacoluto significa figura de regência em que o termo da oração vem solto, sozinho, sem nenhuma relação sintática com os outros termos.
Mirisola escreveu muitos contos e, entre tantos, vejamos uma amostra de como ele também tem uma “função libertadora” usando palavras “soltas”, como no conto Joana e as Gôndolas: “... Passaríamos as férias num balneário catarinense onde Décio Piccinini tem a idade do meu pai. Carros coreanos e pufes sugeridos. Um lugar sem livros. Onde a velha cobra com dentes de cavalo vive amigada com um polaco oblíquo e pornográfico, estou falando da minha sogra imaginária, e do seu amante, o polaco. Também tem um Cristo que irradia flashes de raio laser depois da meia noite”.
Os ventos é o ponto de partida para o texto¸ da mesma maneira que a liberdade de expressão é pretexto para se viver. Navegar é preciso.

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