quarta-feira, 28 de setembro de 2011

0

POESIA... Quando revelar ou ser reflexo?

Jorge Luís Borges escreveu que “... a poesia não é alheia, está logo ali, à espreita. Pode saltar sobre nós a qualquer instante. E a vida tenho certeza é feita de poesia”.
Como fazer para que as pessoas percebam que vivem a poesia e se importam com ela? Que sentem o reflexo de um poema? De onde vem a inspiração, na revelação das palavras? Quando a inspiração permite a revelação?
Devia ser tarefa simples para o escritor que conhece os passos da estrada. Mas, não é assim; Clauder Arcanjo nos revela em seu poema “A dureza de um verso”:

“O verso mais doído / é o verso não proferido.
Aquele que entala, / estrala, arma-se, rala...
mas não se impõe. / O verso mais sofrido
é o verso não escrito./ Aquele que, (mal) criado,
nega-se, cala-se... e silencia.
Espia, se inicia, punge... / contudo não grunhe.
O verso mais fatal / é o verso não lido.
Aquele que, disposto, / se apresenta; arrebenta,
experimenta, inventa.../ porém ninguém o lê.
A dureza de um verso, poeta, / é a maciez do seu reverso”.

Seu poema reclama da “entresafra da criatividade” e da “angústia da não-criação”. O escritor reflete que a dureza de um verso é estar “emperrado”, com seu discurso entrecortado, mas a luta pela inspiração pode mudar a sua vida, depende da criação e do criador.
O trabalho de aprimorar e dominar o verso vale para que o escritor exerça o seu amor às palavras, popularize as expressões e se revele como fonte de inspiração. E cortejar a literatura não apenas com a qualidade indiscutível das letras e, sim, consentir que venham a público os poemas.
Escrever, produzir, poetizar é cada vez mais precioso, por ser o caminho da liberdade. Acredito que existe vida além desta e que ela está em nossos sonhos. Nascemos para esvoaçar a imaginação, como em Mário Quintana:

“Os poemas são pássaros que chegam / não sabem de onde e pousam
no livro que lês. / Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão. / Eles não têm pouso
nem porto / alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem. / E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
o maravilhado espanto de saberes / que o alimento deles já estava em ti...”

Seja o primeiro a comentar: