quinta-feira, 27 de outubro de 2011

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Os Caminhos de Laura - Capítulo LVI


Ao chegar, a casa ainda estava vazia. Quer dizer então que ninguém sentiu minha falta, poderia amanhecer na rua que passaria despercebido. Sozinha em minha varanda olhando as estrelas brincarem com as luzes aqui de baixo, pensei na figura agradável de Ricardo. Ele também sofrera muito. Só que sua separação fora por desígnios divinos, sua esposa o aguardava no além. Diferente de mim, que ninguém me aguardava em lugar nenhum. Bem! Equívoco. Meus pais e outras pessoas queridas também me esperam no além. Ainda bem que posso contar com isso.
No dia seguinte desci para a garagem bem cedo porque tinha uma consulta com um cardiologista. Alguém olhava meu carro atentamente, debruçando-se para ver o interior. Fiquei com medo. Seria um ladrão? Já ia chamar o porteiro quando reconheci a pessoa. Era Ricardo. Que estaria fazendo ali bisbilhotando?
- Bom dia! – falei bem alto da escada onde estava.
Ele virou-se sobressaltado e riu:
- Estava olhando esse carro. Ele foi meu! Sabe de quem é?
- Como assim? Foi seu?
- É! Comprei-o zero quilometro e usei-o por algum tempo! Vendi faz dois anos para um amigo.
O carro meu ex-marido havia me dado alguns dias antes. Nem sabia de quem fora. Como sempre confiava nas decisões de Luan eu nem procurava saber detalhes.
- Esse carro agora é meu.
- Não acredito! E você mora aqui neste prédio? Sério?
E sua fisionomia ficou radiante com um sorriso maior que o do "smile". Nem sei se pelo carro ser meu, ou se por eu morar naquele prédio. Bem, também não importava muito.
- E você o que está fazendo aqui? Posso saber?
- Tenho algumas unidades alugadas aqui. Vim resolver alguns problemas com inquilinos. Desci para ver se as garagens estavam realmente com as infiltrações que eles estão alegando. Você tem problemas com infiltrações na sua garagem?
- Não! Nunca tive!
- Acho que não tem nada. Mas para ver isso teria que estar chovendo. Vou esperar chover. Mas então comprou esse carro de quem?
- Não sei de quem era.
- Bem não importa. Ele ainda roda bem? Está muito bonito! Bem conservado. Também com a dona que tem não se pode esperar outra coisa, não?
- Não seja adulador. Você nem sabe se sou eu que cuido dele. Eu apenas ando nele, ele me leva onde preciso ir, e faz seu papel bem feito.
- Cedo para estar indo bater shopping! – falou brincalhão.
- Não vou ao shopping. Vou ao médico fazer uns exames de rotina. Isso é normal. Médicos sempre marcam horas deploráveis!
- É! Os médicos são uns monstros! – falou rindo.
- Quer uma carona? Posso levá-la. Sabe como ando as catas de algo que fazer. E isso me daria grande satisfação, porque seria um afazer, além de estar muito bem acompanhado.
- Não! Agradeço muito a gentileza, mas prefiro ir ao sacrifício sozinha. Além do mais demorarei bem mais do que gostaria, porque serão vários exames a realizar.
- Ok! Você manda!
- Até mais! Preciso ir porque estou em cima da hora.
Ao sair da garagem pensei que grande coincidência fora aquela. Como um homem que conheci no shopping comendo sanduíche de atum, estava em minha garagem sete horas da manhã, olhando meu carro que por cima de tudo, fora dele. Vá lá entender o destino!

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