Percorreu o longo da avenida. Asfalto quente. Vestígios das noites de verão. Andou em pés descalços. Sapatos à mão. A luz de cada poste batia-lhe no rosto. Corpo exposto, no tempo morno. Hálito ausente. Ausente as veias, o pulso, como também ausente o ânimo.
Caminhou pelos meios fios das calçadas. Sarjetas frouxas em marcas de desafios. O olhar riscando edifícios. Altas horas. Janelas indiscretas, acesas à meia-luz. Silhuetas invisíveis, provenientes da íntima imaginação. Traços de amor a desenhar um caminho à madrugada.
Gritou! Nada aflito, perdido na própria aflição.
Nenhum corpo quedou-se!
Não houve suicídio.
A vida renasceu em massa...
Nenhum murmúrio.
Silêncio, apenas.
Sobreviveu às angústias noturnas.
Foi jogado contra a maré.
Saiu ileso!
Caiu erguido, diante da porta que se abriu em sorrisos, no horizonte.
Sentiu espasmos... orgasmos de ilusão a agasalhar-lhe o peito.
Assim embalou-se nos braços transparentes de um anjo.
Sentiu sussurros nos ouvidos.
Calou na alma dos olhos quentes que a lua prometeu.
Na manhã seguinte o sol nasceu dourado, carregado por única cicatriz, despontando fresco, no horizonte.
Por fim, puxou para si o lençol, e dormiu.
Por - Malu Silva
Imagem retirada do Google
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