quinta-feira, 24 de novembro de 2011

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O Sonhador - Capítulo VIII

- Foi por ali!
Os dois seguiram até o barranco do grotão e viram os estragos da queda de cavalo e amazona, feitos nas ramagens dos arbustos.
- Vai pra casa e avisa o patrão! – disse Venâncio.
Mariazinha voltou em disparada para a casa grande.
Venâncio desceu pelo mesmo caminho feito pela queda do grande animal no grotão, com cuidado porque era íngreme e perigoso. Quando chegou, Marta, a mãe de Perônio ainda vivia. Ela acenou para que ele se aproximasse.
- Venâncio! Atirei-me porque quis. Não agüentava mais a vida com Faustino. Você sabe. Quando meu filho crescer e for homem feito, conte o que viu e diga por que aconteceu.
Mas Venâncio não sabia. Apenas olhava a patroa de longe. Nem imaginava a vida dela na casa grande. Só amava em segredo aquela figura esguia e linda vista pelas frestas das janelas, nunca iria desrespeitar o patrão. Só em pensamentos!
Logo depois a mulher morreu em seus braços. Venâncio quando ouviu a bulha do povaréu, sumiu no mato que escurecia a baixada da beira do rio. Ninguém mais o viu. Também ficou com ele o segredo do suicídio. Embora alguns mais linguarudos até aventassem a idéia de tal, a morte ficou como acidente.  Mas Venâncio andava por ali, escondido, mendigo de pão e de amor até o menino crescer e ficar com idade para saber a verdade, guardada por ele, Venâncio, no coração dorido e machucado com o segredo de sua alma.
Venâncio concluiu a narração e levantou-se lentamente, sem erguer os olhos cansados do chão esverdeado e disse: “Taí a história de sua mãe”. E novamente sumiu no mato sem deixar rastros.


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