quarta-feira, 30 de novembro de 2011

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A PASSAGEM 8 - JANDIRA ZANCHI


I  -  A  PASSAGEM
 
8.

     Quando a tropa deteve-se no estreito, o dia corria suas horas de vespertinas úmidas. Árvores ainda viçosas, mas já sucumbidas das meditações da alma, perfuravam um caminho estreito. Ondeava-se por suas curvas, quase sem ressentimento, algum propósito.
-         A floresta sempre evita evidenciar-se em alguma pista- ia dizendo Alonso. É mesmo assim, destronada, enfronhada em si, alheia das composições de acerto e erro que movimenta ao seu redor, excluída de qualquer reverência.
-         Mas tão pródiga em seus perfumes e nos encantos de seus seres... parece-me sempre enamorada, ataviada de delírios ameaçadores, enfronhada nas sombras que se levantam à luz da alvorada... deslizante, mas apagada nos contornos.
-         No altar de suas terras baixas ainda encontra fácil desmanche para as boas planícies e, mesmo naquelas noites frias, de silêncio prenhe dos cochichos da lua, os guardiões se revezam nas fronteiras.
-         As névoas dos  sonhos não a descuidam de seus princípios. A visão do demasiadamente lúcido chega a aborrecê-la, já que é tão pouco empenhada de sua liberdade.
-         Só é ferida, por ferros de vertigem, nas grandes subidas, pois é nas suas encostas que se espreita a possibilidade de a por prenhe.
-         Aí é rígida e formosa, inconsolável por emaranhar-se em tão justo cerco. Ao denegrir-se de seus príncipes é feita amante do bruxo, quase feroz no arredondamento.
-         Apertada em sua alma é violenta no desfrute.  No poço das trilhas lê todas as sinas, no veio do peito a cor de cada esperança.
-         Desnuda-se com amarga perícia. Aturdida do centro dos fatos, espreme-se no lodo até arrebentar-lhe o segredo.
-         Conversa com as fadas e bendiz os amantes. Envenena suas ervas, mas cura o mendicante.
-         É macho e fêmea no cruzamento de suas raízes. Desconhece os limites e os princípios do bom comportamento pois, em cada uma de suas pedras, as formas não se consomem, antes de si brigam, sem extrair claridades.
-         Ruge com tal violência que não necessita de ciência. Solvente, destrói todas as pompas, desfaz todos os ensinamentos. Munida no instinto, é bem mais do que consciência.
-         E não podemos lhe passar além. É  deixar espremer o sulco até que lhe seque o arroubo. Sabe bem mais de si aquele que não se supõe o melhor de si mesmo.

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