ah, meu amor, como é difícil a restauração!
teu cinzel remove calos ósseos, na carne viva
sangra excessivamente cada retalho
o texto convoca o silêncio.
é obscura e fria a linguagem do narrador
e veladas são as expressões da lei mística
no ventre de cada letra petrificada vês o cerne,
amedrontado com o narciso movimento da
onipotência num mundo dionisíaco e perverso
os versos ainda não sabem ser gestos
mas a paixão arde nos subterrâneos
e o olhar já descreve órbitas maiores
o leito esteve ameaçado por monstruosidades
que entravam pela janela. como fechá-la
sem perder o mundo?
cada esgar transmutava-se em máscara.
na desumana estreiteza, uma abertura
divina sobre as cabeças
entre abismos celestes,
para trás dos ombros, as perturbações
e, à frente, o verbo preferir.
sonia regina
Imagem: Luz Maria Vales
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