sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

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perturbações























ah, meu amor, como é difícil a restauração!
teu cinzel remove calos ósseos, na carne viva
sangra excessivamente cada retalho

o texto convoca o silêncio.
é obscura e fria a linguagem do narrador

e veladas são as expressões da lei mística

no ventre de cada letra petrificada vês o cerne,
amedrontado com o narciso movimento da
onipotência num mundo dionisíaco e perverso

os versos ainda não sabem ser gestos
mas a paixão arde nos subterrâneos
e o olhar já descreve órbitas maiores

o leito esteve ameaçado por monstruosidades
que entravam pela janela. como fechá-la
sem perder o mundo?

cada esgar transmutava-se em máscara.
na desumana estreiteza, uma abertura
divina sobre as cabeças

entre abismos celestes,
para trás dos ombros, as perturbações 

 
e, à frente, o verbo preferir.


sonia regina





Imagem: Luz Maria Vales

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