A névoa espessa perpassa a mente semi-adormecida do artista, à mercê de devaneios intermináveis, como conversas insólitas sobre magnólias que não germinam no inverno ou a construção da teoria do triste trino de um trigueirão, outrora treinado para encantar. Há ainda o rumorejar obscuro dos colhedores de café, entrincheirados nos pés, promovendo a derriça; também se ocupa do solfejar alegre das mulheres na pisa das uvas, nas vinhas dos vales perdidos e do encanto do primeiro latido de um terno filhote recém-nascido, ao romper da madrugada silenciosa e fria. Não, não há espaço para sonhos pequenos, somente a cunha do tempo cravando frestas nas lembranças de festas dionisíacas, naqueles tempos em que apenas sete sentimentos sentenciavam a cabeça dos homens, sem tantas tentações, nem o pudor de se atirar de cara no redemoinho das emoções baratas, cantadas por um trovador de primeira grandeza, que vai sumindo no fim da estrada quando a bruma se dissipa e os primeiros raios de sol beijam, timidamente, as gotas de orvalho cristalinas.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
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2 comentários
Betusko,
Gostei Muito do Texto!
"Não, não há espaço para sonhos pequenos..."
Um Forte Abraço, Jorge
Excelente, o céu é o limite do poeeta; o mundo refém da criatividade.Abraço.André
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